domingo, 4 de janeiro de 2009

OESP - Pelotões de fronteira vão ser ''células de vigilância''


Por Tânia Monteiro, BRASÍLIA

Novos 28 postos não preveem vilas para abrigar famílias de militares

O Ministério da Defesa vai quase dobrar o número de pelotões de fronteira na Amazônia, mas a diretriz de instalação dos novos postos mudará radicalmente. Serão, prioritariamente, "células de vigilância militar", deixando em segundo plano a velha preocupação com a chamada "vivificação das fronteiras" - o povoamento da região -, o que sempre levava ao traslado de familiares dos militares para a áreas dos pelotões e à criação de pelo menos uma vila no entorno.

Atendendo à recomendação do decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho do ano passado, o Exército vai instalar 28 novos pelotões em terras indígenas e em áreas de conservação da Amazônia. O projeto, batizado com o nome de Amazônia Protegida, ampliará de 23 para 51 o número de pelotões de fronteira e reforçará prioritariamente a Região Norte, área mais rarefeita de proteção militar.

Pelo projeto, as novas unidades de defesa serão construídas ao longo dos próximos nove anos, estendendo-se até 2018, e com um orçamento de R$ 1 bilhão. A meta é aumentar o número de militares do Exército presentes na área de 25 mil para 30 mil. O projeto prevê ainda a modernização dos quartéis que já existem na fronteira, ao custo de R$ 140 milhões.

O Amazônia Protegida foi concebido já com base na Estratégia Nacional de Defesa, lançada em dezembro por Lula. Nessa nova concepção, os 28 novos pelotões de fronteira servirão para "monitorar" e "reagir imediatamente" a qualquer ameaça. Serão "a ponta de um sistema estratégico de defesa". Terão menos gente e mais equipamentos.

Ao contrário do que ocorre hoje, quando com a instalação dos pelotões são construídas vilas residenciais para abrigar os familiares dos militares, na nova concepção filhos e mulheres não irão mais para a fronteira com seus maridos, permanecendo nos centros urbanos. Os soldados servirão nos postos de fronteira em sistema de rodízio.

RADARES

De acordo com um general, o novo pelotão constituirá "uma espécie de célula de vigilância" e, quando todos os postos estiverem instalados, a distância entre eles será de 200 a 250 quilômetros. Tudo será coberto pelos radares de vigilância aérea e terrestre, que estarão conectados ao sistema de comando e controle da unidade central.

O Amazonas será o Estado que mais receberá novos postos de fronteira, sete, seguido de Roraima, com seis. No Amazonas eles ficarão em Demini, Jurupari, Marauiá, Tunuí, Traíra, Puruê e Bom Jesus. Em Roraima, serão instalados em Entre Rios, Jacamim, Vila Contão, Serra do Sol, Ericó e Uaiacás. Os demais Estados da Amazônia receberão quatro postos, dos quais três em Rondônia (Surpresa, Rolim de Moura e Pimenteiras do Oeste). No Amapá, eles serão construídos em Vila Brasil, Queriniutu, Jari e Amapari. No Pará, em Tiriós, Curiaú, Cafuni e Trombetas. No Acre, em São Salvador, Marechal Thaumaturgo, Jordão e Iaco.

Apesar de a implantação dos novos pelotões não ter mais a função de povoar a Amazônia, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem dito que a região precisa ser ocupada e desenvolvida. Jobim disse aos parlamentares, em audiência pública no Congresso, no fim do ano, que o "desenvolvimento e a proteção da Amazônia só serão eficazes se tiverem a vertente civil, com a presença e o envolvimento de todos os segmentos do Estado na região".

"Sem isso, nós vamos gastar, investir, vamos proteger a Amazônia, mas a dificuldade é que os ilícitos serão praticados por aqueles personagens que, por falta de opção econômica para garantir sua sobrevivência, são empurrados para a ilegalidade", avaliou Jobim, citando como exemplo os que acabam praticando o desmatamento.

Afinado com a tese dos militares, ele considera que a região não pode ser "um jardim para deleite de europeus que destruíram suas florestas", mas um local em que os brasileiros possam se desenvolver. "A Amazônia não pode ser mantida como um parque de recreio para europeus e americanos apenas", insiste. "Lógico, o turismo é importante, mas reduzir a Amazônia a somente isso é muito ruim."

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