quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Envolverde - Cultura e arte são parte da luta


Por Fabrício Ângelo, especial para IPS/TerraViva

Manifestações políticas, culturais e ideológicas. Danças, músicas e discursos, a favor e contra, artesanatos e artes, caminhadas longas e a permanente busca pelos locais onde as coisas estão ou estariam acontecendo. Este foi o cenário recorrente do primeiro dia de debates. Uma as frases mais ouvidas: “Onde fica...”. Uma pergunta simples que quase nunca tinha uma resposta objetiva. Isto, no entanto, não estragou o dia, que teve vários tipos de manifestações culturais que retrataram temáticas feministas, contra o trabalho escravo e pelo fim da violência, que na Amazônia é um cancro.

No início da manhã, Graça Costa, representante da organização, desejou boas vindas aos participantes e disse que o fórum é uma iniciativa que permite à Amazônia de dialogar com o mundo de uma forma diferente. “Esse cinco dias serão de muita troca cultural, onde os povos da Pan-Amazônia podem apresentar suas tradições de diversas maneiras”, disse. Para ela esta é uma oportunidade única de troca de energia, força e cultura.

Segundo Graça Costa, a idéia do Fórum Social Mundial é de ser um espaço de consolidação do ideal de várias pessoas que acham que um outro mundo é possível. “Estamos em um FSM diferente, pois hoje discutimos sobre a crise do capitalismo e mudanças climáticas em uma cidade amazônica”, falou. Uma crise, diga-se de passagem, que vem sendo anunciada pelo FSM há oito anos, segundo um dos fundadores do Fórum, Oded Grajew..

As múltiplas culturas presentes em Belém tiveram seu momento quando uma mesma carta foi lida em português, inglês, espanhol e francês, exaltando os objetivos do FSM2009, falando principalmente sobre os povos indígenas,as populações tradicionais e a defesa da floresta amazônica. Depois grupos do Norte e Nordeste do Brasil se apresentaram com danças e folclore tradicionais como o Carimbó do Pará e a Capoeira da Bahia.

Varias ONGs participaram desta confraternização, entre elas a Articulação de Mulheres Brasileiras. De acordo com a coordenadora da entidade, Guacira Oliveira, o grupo veio com para debater três pontos considerados primordiais: a legalização do aborto, a violência contra a mulher e a precariedade do trabalho feminino.

Sobre o aborto Graça afirma que é um direito da mulher, “agora além do enfrentamento ideológico pelo direito de liberdade da mulher, estamos sendo obrigadas a lutar contra a sua prisão”, disse. Segundo ela, Guacira, só em 2008, 10 mil mulheres foram indiciadas por realizarem aborto, sendo que 1.200 foram presas. “Estamos vivendo uma nova inquisição, nem durante o período da ditadura isso aconteceu”, salientou.

Violência é tema de extrema relevância


Outro ponto de discussão da ONG é a violência contra a mulher, como a doméstica, e a sexual. “Lutamos contra todos os tipos de violência, pois eles implicam na piora da qualidade de vida das mulheres. As que vivem nas favelas são as que mais sofrem e o Estado não faz nada para resolver”,disse. Guacira Oliveira ressaltou que os movimentos feministas do mundo todo vêm se articulando para trabalhar conjuntamente, desde o primeiro fórum. “Buscamos o fim das guerras, mas também precisamos de uma paz que não nos oprima!”.

Mas o maior desafio dessas ativas mulheres parece ser a questão que envolve o trabalho feminino. Em todo o mundo elas são discriminadas tanto pelo poder público quanto o privado, principalmente em relação às oportunidades de emprego. A coordenadora da ONG afirmou que as condições são desiguais e não há o reconhecimento ao trabalho que realizam, principalmente na zona rural. “Hoje no Brasil só 25% das mulheres conseguem se aposentar apesar de, na maioria das vezes, terem várias jornadas de trabalho, cuidando da casa a dos filhos, além dos empregos. Esperamos que o FSM seja um espaço de maior articulação entre as entidades e que possamos construir estratégias de luta, convergindo idéias com outros movimentos sociais”, finalizou.

Seguindo o contexto de pluralidade de idéias do FSM 2009 encontramos o grupo Criticq Radical, que veio do Ceará trazendo uma maneira diferente de visualizar a política e os movimentos sociais. “Criamos uma nova ideologia, baseada na critica radical ao valor. Decidimos romper todo e qualquer tipo de relação com partidos ou associações”, disse Carlos Rodrigues, um dos fundadores do projeto.

De acordo com Rodrigues, eles fazem uma critica ao dinheiro, Estado e mercado, e descobriram que existem pessoas com o mesmo pensamento em outras partes do mundo. “Hoje lutamos contra a dissociação sexual e o fetiche, que tem como principal objetivo a mercantilização. Viemos de Fortaleza com 44 pessoas para divulgar nosso conceito de sistema, já são dez anos e esperamos que essa crise no capitalismo seja o golpe final no mercado”.

Mesmo acreditando que o FSM é um espaço que fortalece o sistema vigente, Carlos acha importante o grupo marcar presença no evento. “ Temos uma grande quantidade de pessoas aqui, e muitas podem pensar como nós”, ressaltou.

Estandes auxiliam renda da comunidade

O projeto Grupo de Talentos, da Universidade Federal do Pará, ajuda servidores e alunos a produzir e mostrar seus trabalhos artesanais. Uma vez por mês eles se reúnem no Campus da universidade onde realizam uma feira.

Durante o FSM 2009 eles estarão divulgando e vendendo suas produções aos participantes do evento. Para a engenheira química Rejane Pyle, que produz perfumes regionais, o principal objetivo é mostrar os produtos a pessoas de outras partes do Brasil e do mundo. “A expectativa é muito boa, espero poder vender e principalmente apresentar meus perfumes”. Em sua banca podem ser encontrados perfumes de aromas como flores da Amazônia e lírio. “Claro que queremos vender bastante , mas é uma ótima oportunidade para que todos aqui possam conhecer as maravilhas naturais de nossa região”, salientou. (IPS/ TerraViva)

(Envolverde/IPS/TerraViva)

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