quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

OESP - Amazônia não resiste 30 anos, diz bispo do Xingu

Por Roldão Arruda

Em Belém, d. Erwin diz que presidente Lula deveria ser incisivo para conter ''desastre''

"A Amazônia está indo para o brejo." Foi assim que o bispo d. Erwin Krautler, da Diocese do Xingu, no Pará, definiu a situação atual da região, ao participar ontem de evento no Fórum Social Mundial, em Belém, que no primeiro dia foi dedicado inteiramente ao debate sobre a questão amazônica. "No ritmo de destruição que tenho presenciado, desde que cheguei à região, em 1965, não dou mais do que 30 anos para que a maior parte da floresta esteja devastada."

D. Erwin não quis fazer comparações entre as ações de diferentes presidentes. Mas ressalvou que Luiz Inácio Lula da Silva poderia fazer mais para conter o desmatamento: "O governo deu passos importantes. Mas Lula teria de ser mais incisivo para conseguir evitar o desastre."

A residência episcopal da Diocese do Xingu fica em Altamira, no oeste do Pará. De acordo com d. Erwin, naquela região já existem municípios em que a cobertura florestal original não passa de 10% do total: "Os outros 90% já vieram abaixo."

Segundo o bispo, respeitado como um dos mais importantes líderes católicos do Norte do País, o ritmo de destruição é menor em áreas de reservas indígenas e extrativistas. "Por isso é que considero a criação dessas reservas um passo importante para a salvação da Amazônia."

D. Erwin é um dos três bispos do Pará atualmente ameaçados de morte por sua ação social. Ele vive sob permanente proteção policial - fato do qual reclamou ontem: "Até na hora da missa tenho de conviver com aqueles dois homens armados."

O evento de que participou ontem, na Tenda Irmã Dorothy, no campus da Universidade Federal Rural do Pará, foi organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A seu lado estava d. José Luiz Azcona, da Diocese de Marajó - outro ameaçado por pistoleiros da região. "Querem me matar porque denunciei a exploração sexual de crianças e menores", afirmou.

ORGANIZAÇÃO

Diferentes movimentos sociais aproveitam o fórum para se organizar. Ao lado da Tenda Irmã Dorothy, que reúne militantes das bases sociais da Igreja, funciona a do Conselho Nacional de Movimentos Sociais. Mais adiante, a dos quilombolas. O Movimento dos Sem-Terra, como em outras edições do Fórum, realiza um evento à parte, fora do campus.

Pela manhã, durante mesa-redonda na Tenda 50 Anos da Revolução Cubana, a senadora e ex-ministra Marina Silva (PT-AC) defendeu a mudança no modelo de desenvolvimento para a preservação da Amazônia. Ela disse que o Fórum de Belém ocorre num momento de interpelação ética. "Ações de pessoas como Chico Mendes e Nelson Mandela anteciparam o futuro, o momento em que vivemos. Devemos a eles essa consciência. E que futuro estamos reservando para as gerações que ainda não nasceram?", argumentou.

O repórter viajou a convite da Funai

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