sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O Globo - Presidentes celebram colapso do neoliberalismo

Soraya Aggege e Maiá Menezes Enviadas especiaisEm evento do qual Lula foi excluído, Chávez, Morales, Correa e Lugo pedem atuação unificada da América Latina

BELÉM. Identificados como o bloco da verdadeira esquerda sul-americana por parte dos movimentos sociais, os presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) celebraram ontem o “colapso do neoliberalismo de Davos”, em referência ao encontro que reúne a nata do capitalismo nos Alpes suíços nesta mesma época. Os presidentes afinaram o discurso e deixaram um recado claro para os participantes do Fórum Social Mundial (FSM): é preciso unificar a América Latina para enfrentar a crise econômica.

Aproveitando o palanque.

pediram ainda apoio da esquerda mundial para seus governos.

Eles participaram ontem de um debate organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina, do qual foi excluído o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula chegou a Belém no início da tarde e aguardou os colegas em um hotel, onde se reuniu com eles para discutir a crise global e temas coincidentes entre os países. Depois, seguiram juntos para um debate público no Fórum, que começou pouco depois das 22h.

No debate com o MST, Correa logo no início deu o tom, afirmando que “o neoliberalismo é um sistema perverso que entrou em colapso”. O equatoriano disse ainda que o Fórum Social é parte da solução de que o mundo precisa.

Chávez afirmou que o Fórum precisa passar das trincheiras da batalha para a ofensiva: — O FSM deve mudar sua ordem estratégica, porque estamos em momentos de ofensiva, não em momentos de trincheiras.

Correa foi enfático: — O FSM é parte da solução para a crise. Oxalá a alternativa venha agora deste Fórum na América Latina.

Chávez diz que “a saída está no socialismo” Ainda no debate, chamado “Perspectivas da Integração Popular da América Latina”, os presidentes fizeram inúmeros ataques ao “imperialismo americano”.

Chávez chegou a propor um julgamento internacional do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush, por seus supostos crimes contra a Humanidade. Ao mesmo tempo, o guerrilheiro Che Guevara foi celebrado. A filha dele estava presente ao debate.

Com o novo presidente dos EUA, Chávez foi mais cauteloso: — Estaremos à espera, observando, a atuação do novo governo dos Estados Unidos, que tem um problema muito grave dentro das suas fronteiras: a crise econômica. Mas o império ainda está intacto, e o presidente (Obama) já disse que Chávez é um obstáculo.

Oswaldo Forte/EFE À NOITE, os presidentes Lugo, Morales, Lula, Correa e Chávez discursaram para 10 mil participantes do Fórum Em entrevista a jornalistas, ele foi ainda mais direto: — Temos de aplaudir a decisão de Guantánamo, mas Obama precisa devolver a área, porque Guantánamo é do povo de Cuba. Obama poderia retirar as tropas de lá, dar algum sinal.

Fernando Lugo, eleito no Paraguai no ano passado, saudou os movimentos camponeses e indígenas, graças aos quais “a América Latina vive um momento de mudanças”.

Mas ele aproveitou o Fórum para, em outro evento, adiantar sua agenda com o presidente Lula. Lugo vai voltar a pedir a revisão do tratado de Itaipu: — Não cremos que um tratado leonino, firmado num tempo de ditaduras em nossos países, possa continuar em vigência.

Ele (Lula) não pode dizer que não são justas as reivindicações de mudanças no tratado — disse Lugo.

Morales também se solidarizou com os sem-terra e os indígenas e admitiu que pode cometer erros, mas prometeu jamais abandonar “a luta contra o imperialismo americano”.

Lula fala de “deus mercado” e “deus Estado” No evento da noite, Morales foi o primeiro a falar a um público estimado em dez mil pessoas, no Centro de Convenções do Hangar. Ele listou pontos que considera importante o Fórum Social discutir, como o fim do embargo a Cuba. Lula, que seria o último, foi alvo de um protesto de militantes de esquerda, que gritaram para o presidente que o capitalismo acabou.

Convocados a falar sobre temas que variaram das questões indígenas na Pan-Amazônia à crise internacional, por cinco representantes de movimentos sociais, Morales, Correa, Lugo e Chávez aproveitaram o palanque para, em uma repetição do encontro da manhã, criticar os neoliberais. Chávez foi aplaudido entusiasticamente em sua fala — um discurso curto —, no fim da noite.

— Se não matarmos o capitalismo, o capitalismo acaba com os povos. Estamos vivendo um momento de crise do capitalismo global e a saída está no socialismo — disse Chávez.

Já Correa criticou o Fórum de Davos: — Os causadores da crise se encontram para tentar nos dar lições.

Em discurso improvisado, o presidente Lula afirmou que houve uma época em que a sociedade apelava para o que ele chamou de “deus mercado”, dizendo que no mercado estava a solução para todos os problemas do país. Segundo ele, o curioso é que as empresas hoje apelam para o “deus Estado”.

Sobre o Fundo Monetário Internacional (FMI), comentou: — Espero que o (presidente Barack) Obama diga ao FMI como ele tem q tratar os países pobres.

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