quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Agência Pará - Negros e indígenas fazem ritual de saudação na abertura do FSM

Por Fabíola Batista

Antes da grande caminhada de abertura do Fórum Social Mundial (FSM) 2009, negros e indígenas fizeram saudação inicial aos participantes em ato sociopolítico, organizado pelo Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), Associação dos Filhos e e Amigos do Ilê Uya (Alfaia) e FGT do índio. A manifestação ocorreu em palco armado na praça Pedro Teixeira, centro da capital do Pará, assistida por milhares de pessoas. Eles representaram a vinda do FSM da África para Amazônia, a despedida dos africanos e as boas vindas dos nativos. E foram aplaudidos pelos diversos movimentos sociais presentes.

"É uma cerimônia em homenagem à terra e às águas, em que invocamos as divindades africanas Omolu e Ogum, respectivamente, e Nanã, que representa a mistura harmônica. Como são divindades ancestrais fazem parte da criação do universo, na cosmovisão africana, da busca do eterno equilíbrio da diversidade", afirmou Edson Catendê, coordenador da Alfaia. Zélia Amador de Deus, do Cedenpa, disse ainda que "negros e negras brasileiros são resultado do doloroso sequestro aos nossos povos no continente africano. Não brotamos no meio do oceano Atlântico. Nossos ancestrais são portadores de muita cultura e valores civilizatórios".

No ritual afroreligioso, foram lidos poemas de líderes negros, como Nelson Mandela (África do Sul), e Amílcar Cabral (Guiné-Bissau). As cantoras Antónia Gimenez (Cuba), Agnez Ruiz (Catalúnia) e Cláudia Peniche (Brasil) saudaram os participantes com a música "Gracias a la vida". Em seguida, teve o ato de transferência do FSM para os povos indígenas na Amazônia, "presente e futuro da humanidade", debaixo de forte chuva que caiu em Belém. Os tembés do município de Santa Maria do Pará marcaram presença no ato. "Sem a nossa terra é difícil resgatar nossas raízes", ressaltou Pina Tembé. Outras etnias do Pará, Amapá e Amazonas.

Para Alfredo Sfeir-Younis, coordenador do Instituto Zambuling para la Transformacion Humana, o FSM é um espaço público que reúne 100 mil pessoas, aproximadamente, visando à transformação não apenas do Estado. "Este é um momento histórico e cultural para o mundo, mas não só para economia. Ela está à falência. Hoje, não devemos pensar apenas em mudar governo, mas uma nova forma de governar sem esquecer das problemáticas sociais. A crise é uma crise coletiva", avaliou.

Ele sustenta que evitar a pobreza se resolve com gestão coletiva do capital, da fortuna. "Não há mudança de governo, sem mudança da consciência das pessoas. A paz mundial depende da paz interior. Precisamos de um processo de autocura do indivíduo", finalizou Alfredo, que pela primeira vez participa do FSM. O Instituto tem sede em Washington (EUA), e integrantes no Chile, Portugal e Bélgica.

Caminhada

Os participantes da marcha passaram pelas avenidas Presidente Vargas, Nazaré e Almirante Barroso até a Praça do Operário, dentre eles, integrantes de partidos políticos, movimentos de mulheres, sindicatos, grupos culturais, povos indígenas, cooperativas etc. Na avenida Nazaré, a governadora Ana Júlia Carepa se integrou à caminhada no bloco do Partido dos Trabalhadores (PT), acompanhada de secretários de Estado e assessores. "O FSM chama atenção para importância da Amazônia e que aqui, além de floresta tem gente, gente que quer viver com dignidade", enfatizou.

Para ela, é necessário combater a pobreza com um novo modelo de desenvolvimento para distribuir os benefícios da riqueza a todos. "Estamos chamando a atenção do mundo ao Pará e ao nosso governo que fomenta um novo modelo de desenvolvimento sustentável economicamente e ambientalmente. Temos o maior programa de reflorestamento, que é o Um Bilhão de Árvores para Amazônia", afirmou. Ana Júlia Carepa acrescentou que o governo do Estado apoia o FSM não apenas na infraestrutura, mas para que as discussões contribuam para o novo modelo de desenvolvimento. "Nos preocupamos em agregar valor aos nossos recursos naturais sem agressão ao meio ambiente. Esta é a possibilidade de termos um mundo mais justo e solidário", acredita.

Na praça do Operário, a programação se estendeu com apresentações e rituais de povos indígenas de vários Estados amazônicos. "Companheiros e amigos indígenas e não indígenas, estou feliz pelo encontro em que cada poço vem aqui neste palco dizer a sua mensagem no dia de abertura do Fórum Social Mundial", disse o cacique Surui, do Estado de Rondônia.

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