quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Envolverde - Fórum Social Mundial: A era da mídia independente
Por Rahul Kumar, para a IPS/TerraViva
Belém, 28/01/2009 – (IPS/TerraViva) – Ativistas e jornalistas reunidos no Fórum Social Mundial disseram que a crise financeira internacional oferece uma oportunidade única para fortalecer o livre movimento dos meios de comunicação independentes, já que as grandes redes operam junto ao mundo corporativo. Ao falar, na segunda-feira, em um painel de discussão, um dia antes da abertura formal do FSM, Altamiro Borges, da associação Vermelho, disse: “A maior parte das organizações de mídia é culpada pela crise, já que a maioria apoiou as condições que provocaram a situação. Os meios de massa tiveram um papel importante em manter e promover a hegemonia das corporações”.
Por sua vez, Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, disse que os grandes grupos privados se viram debilitados pela crise. O neoliberalismo recebeu um golpe mortal e o poder da mídia, sobretudo da impressa, enfraquece, afirmou. “A decadência dos grandes meios de comunicação foi causada por sua aliança com círculos financeiros e o fato de que também usaram métodos similares para funcionar”, acrescentou. O FSM, que acontece até domingo em Belém do Pará, é o maior encontro mundial de organizações e movimentos contrários ao modelo capitalista e que reclamam outro tipo de globalização.
Os participantes dos painéis refletiram sobre a cobertura da crise e encontraram graves vazios nos fatos informados. Bernardo Kucinski, da Universidade de São Paulo, afirmou que a mídia apresentou a crise com uma tendência alarmista e decidiu ocultar a verdade. “Bancos no Brasil haviam criado departamentos de análises que cultivaram determinados jornalistas e alimentavam com informação somente eles. Este grupo de pessoas, em colaboração com os jornalistas, tentava desviar a atenção do caos econômico para outros assuntos. Paradoxalmente, a melhor cobertura da crise foi dos jornais norte-americanos, que inclusive informaram sobre os vínculos políticos da crise”, disse Kucinski.
A discussão se centrou em descobrir o que é chave para manter organizações de mídia livres, além dos desafios impostos pelas corporações e pelos governos. A maioria das organizações de meios de comunicação independentes e alternativos prosperam na Internet, bem com as rádios comunitárias. Jonas Valente, da Intervozes, disse que a mídia independente é uma necessidade na atual ordem mundial porque promove os direitos humanos e apresenta uma diversidade de vozes aos seus consumidores.
“No Brasil, a mídia comercial é formada por apenas seis redes que controlam mais de 90% do mercado. Os que produzem sua própria informação encontram dificuldades para apresentar seus pontos de vista à população. Os 180 milhões de habitantes do Brasil precisam de um ambiente mais democrático”, lamentou Valente. Dando exemplos de assédios aos meios independentes, José Sóter, da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraco), disse que as autoridades fecharam oito emissoras independentes em Belém, onde acontece o FSM, com ajuda do governo, argumentando que o espectro radioelétrico tinha de ser aliviado.
Além disso, destacando as dificuldades que a mídia corporativa cria para pequenas organizações, Renato Rovai, da Revista Fórum, afirmou: “Alguém se queixou de que as rádios comunitárias podem derrubar aviões. Em São Paulo houve um jornal que nos acusou de pegar anúncios públicos para financiar nosso estabelecimento”. O fato – prosseguiu – “é que os principais meios de comunicação tampouco podem sobreviver sem publicidade oficial. Basicamente, não querem que tenhamos acesso às finanças. Portanto, temos de recorrer a novas vias de financiamento”.
A discussão sobre os fundos para a mídia independente foi a que causou mais diferenças entre os ativistas. Uns defendiam que se usasse recursos do governo, outros discordavam. Alguns afirmaram que somente se devia usar dinheiro oriundo de contribuições pessoais, e outros propunham explorar novos modelos de financiamento. Ivana Bentes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmou que os meios de comunicação independentes devem buscar além do Estado para se sustentar.
Maria Pia Matta, vice-presidente para a América Latina Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), exortou os governos a avançarem no direito à comunicação como um direito humano. “A Bolívia e alguns outros países latino-americanos reconhecem que a rádio comunitária também é um direito à comunicação e dizem isso através de suas constituições. Talvez devêssemos formar alianças com os governos e os partidos políticos para que o movimento se fortaleça e avance” ressaltou Maria Pia.
(Envolverde/IPS/TerraViva)
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