sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Envolverde - Festivo, mas com seriedade!


Por Dal Marcondes, especial para a IPS/TerraViva

Nos últimos dias uma multidão colorida, festiva e barulhenta ocupou diversos espaços em Belém. Nas ruas os grupos de participantes chamam a atenção dos moradores por suas roupas informais e coloridas, pelas línguas exóticas e pela alegria. Nas universidades, as salas de aulas tornaram-se palcos de debates políticos e discussões sobre os rumos de temas como cidadania, mulher, trabalho, Amazônia, crise global, papel da esquerda, nacionalidades e nacionalismos, e uma infinidade de outros. Muitos jovens coloridos na roupa, na pele e na alma buscam respostas para desafios que apenas começam a ser identificados, mas que certamente embutem armadilhas que os atingirão no futuro.

O Fórum Social Mundial chegou a esta 9ª edição, na Amazônia, ainda juvenil, com muitas idéias e poucos instrumentos de pressão. A participação de governos, ou melhor, de presidentes, é uma maneira de o Fórum influir, mas ainda dentro dos interesses destes governantes em capitalizar as idéias e inovações que estão florescendo em Belém.

Na grande mídia o Fórum ainda é visto pelo pitoresco, pelo inusitado e engraçado. Não existe um olhar sério sobre a capacidade quase infinita de inovação que existe nesta reunião de quase 100 mil pessoas pensantes de quase todos os lugares do planeta. A crise econômica mostrou o desarranjo do sistema econômico e financeiro internacional, que já estava prognosticada por membro do FSM desde seu início, em 2001. No entanto nas grandes redações ainda não se percebeu que as saídas não se encontram em Wall Street ou na avenida Paulista. É preciso inovar e criar na construção de alternativas que incorporem valores locais, tradicionais e jovens. Exatamente a efervescência que aflora em Belém.

Um dos grandes jornais do Brasil publicou em manchete que o “Patrocínio das Estatais para o FSM foi de R$ 850 mil”. A intenção certamente foi alertar a sociedade sobre o dinheiro público que está sendo gasto. Mas não há na matéria nenhuma referência ao volume de dinheiro gasto para manter as vendas de carros ou em publicidade destas mesmas estatais nos grandes veículos de comunicação. Ou seja, os bilhões que vão para manter o “status quo” pode. Mas financiar um debate plural sobre “um novo mundo possível”, não pode.

O escárnio da mídia veio mais forte quando outro veículo publicou em manchete: “Fórum Social começa sem queima da bandeira americana”. Como se a única “bandeira” do Fórum fosse o protesto anti-americano.

Houve, também, quem identificou pautas relevantes. O Valor Econômico entrou pela vertente da discussão sério do modelo econômico: “Fórum Social discutirá crise com presidentes”. Neste venceu o pragmatismo de que a crise não se resolverá com o distanciamento sectário de propostas vindas da sociedade.

O FSM certamente não tem a operacionalidade vista como “funcional” pelas organizações de gravata, mas tem a criatividade que o mundo precisa. As idéias precisam circular para além dos preconceitos.

(Envolverde/IPS/TerraViva)

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