Por ALEXANDRE GONÇALVES, JAMIL CHADE, CARLOS ORSI e LEONENCIO NOSSA
A publicação de dados do resumo de um relatório sobre a Amazônia, que será apresentado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em fevereiro, causou divergências com o governo e organizações brasileiras de proteção ambiental. Segundo reportagem publicada no jornal francês Le Monde, o relatório aponta que a Amazônia teria perdido 17% de sua área entre 2000 e 2005.
Intitulado Mensagens-chave, o texto distribuído ontem pelo Pnuma diz que "no período 2000-2005, o desmatamento acumulado da Amazônia foi de 857.666 km2, o que significa que a cobertura vegetal da região (na América Latina) foi reduzida em aproximadamente 17%". O documento oficial será apresentado em Nairóbi (Quênia), entre 16 e 20 de fevereiro. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento acumulado entre 2000 e 2005 na Amazônia brasileira é da ordem de 130 mil km2, o que corresponde a apenas 15% do número apresentado pelo Pnuma. Como mais da metade da Amazônia fica em terras brasileiras, é improvável que 85% do desmatamento tenha ocorrido em países vizinhos.
Em entrevista ontem no Fórum Social Mundial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou de lado a diplomacia e rebateu de forma dura. Ele defendeu a indústria madeireira e disse que os estrangeiros dão palpites sem conhecer os problemas da Amazônia. "As pessoas que vêm visitar o Brasil têm de saber o seguinte: tomem conta do que é seu que o Brasil toma conta do que é dele."
Lula disse que os 25 milhões de habitantes da Amazônia não querem um santuário. "Eles querem trabalhar e ter acesso a bens materiais e, portanto, não querem que a Amazônia seja um santuário da humanidade", disse. "Muita gente que fala da Amazônia esquece que a Amazônia é do Brasil, e que o Brasil é que tem direito sobre ela." Lula disse que as madeireiras podem trabalhar de forma sustentável. "Nós achamos que aqui podemos desenvolver projetos de indústria madeireira, com manejo correto da floresta."
Para o diretor de políticas de combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires, o material divulgado pelo Pnuma contém um erro: confunde todo o desmatamento na região com o ocorrido entre 2000-2005. "No ministério, consideramos que, no Brasil, já foram desmatados historicamente 700 mil km2, ou 17% da Amazônia Legal", afirma Pires. "Entraremos em contato com o Pnuma para saber o que aconteceu." Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), diz que o estudo é uma compilação de dados. Ele também considera que houve erro.
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