segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Diário do Pará - FSM: Grandes projetos precisam escutar povos tradicionais

Crise de civilização, de desenvolvimento e de estado. Esses são os três eixos principais a serem discutidos pelas representações indígenas no Fórum Social Mundial. Em relação à crise de civilização, o foco primordial será a mudança climática, provocada por ações como desmatamentos, urbanização desenfreada e aquecimento global. Em relação ao desenvolvimento, a discussão passa pelos atuais modelos desenvolvimentistas adotados pelos países latinos. Já em relação à crise de Estado, os indígenas querem ser ouvidos e não relegados a um segundo plano nas tomadas de decisão.

"Um dos focos principais de discussão é a IIRSA (Iniciativa para a Integração de Infraestrutura Regional da América do Sul), um acordo multilateral firmadoem2000, em Brasília, por 12 países da América do Sul com o objetivo de unir e realizar grandes obras de infraestrutura nas áreas de transporte, telecomunicações e energia na região. O Brasil é um dos principais líderes e financiadores desses projetos, que não costumam ouvir as comunidades tradicionais, como os indígenas", diz o peruano Roberto Spinoza, membro da Coordenadoria Andina das Organizações Indígenas (CAOI), entidade que desde 2006 encabeça a luta pelos direitos indígenas nos países da América Latina.

Para o FSM espera-se a presença de cerca de dois mil indígenas, inclusive com algumas pequenas delegações africanas e indianas, que representarão cerca de 44 milhões de pessoas, que ocupam aproximadamente 27% do território amazônico, formado pelos nove países da Pan Amazônia. São 522 povos tradicionais de diferentes etnias que não costumam ser ouvidos pelas empresas multinacionais, como mineradoras, petrolíferas, hidrelétricas, madeireiras, sojeiras, entre outros.

"São ao todo mais de 500 megaprojetos, como hidrovias, oleodutos, hidrelétricas e estradas que impactam as áreas indígenas e irão provocar graves impactos sociais e ambientais na Amazônia, como desmatamento, empobrecimento das comunidades locais, incluindo os ribeirinhos", diz Spinoza.

Segundo ele, há investimentos da ordem de 69 milhões de dólares para esses projetos, que serão financiados pela Coorporación Andina de Fomento (CAF), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Fondo Financeiro para el Desarrollo Del Cuenca Del Plata (Fonplata). Mas o principal financiador é o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). "O Brasil lidera essa concepção de desenvolvimento, baseado em mais rodovias, mais ferro e cimento. O que nós queremos é ser consultados antes e não quando os tratores já começam a invadir as terras. Não estamos contra eles. Eles é que estão contra nós", diz.

Outra questão levantada por Spinoza é o fato de que mesmo com tanta diversidade de etnias, os países da América Latina ainda possuem um olhar uninacional. "É apenas uma nação, um estado, quando na prática não é assim. São mais de duas mil nações ou povos, várias línguas, tratados todos como uma coisa só. Queremos um estado plurinacional. Isso significa reconhecer muitas formas de educação, de saúde, de decisões políticas".

Os seminários indígenas ocorrerão nos dias 29 e 30 de janeiro na Tenda dos Direitos Coletivos e no dia 31 de janeiro na Tenda dos Povos Indígenas.

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