A nona edição do Fórum Social Mundial, que começou ontem em Belém (PA), reunirá os cinco principais presidentes de esquerda da América Latina. Mas eles devem encontrar um clima de cobranças sobre a crise econômica global e a preservação da Amazônia, afirmam os organizadores do encontro.
Estão confirmados para participar do evento, além do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai).
Eles devem ficar na capital paraense entre os dias 29 e 30. Antes, o maior número de presidentes reunidos em só um fórum ocorreu em 2005, em Porto Alegre (RS), com Lula e Chávez.
"Mas não são eles que dão legitimidade a nós", disse Cândido Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), um dos idealizadores do evento. "Somos nós é que damos legitimidade a eles", afirmou.
De acordo com ele, os presidentes foram convidados para responder o que planejam fazer diante dos dois principais temas do fórum deste ano: a "falência" do sistema financeiro mundial e a busca de alternativas de desenvolvimento sustentável - daí a escolha da Amazônia como sede.
"Eles não são membros natos do fórum. São só convidados. Nós estamos atentos e nossa função é pressionar e vamos continuar pressionando."
Em entrevista coletiva ontem, Oded Grajew, também idealizador do evento, disse que as oito edições do Fórum Social Mundial "avisaram" o mundo sobre o colapso do modelo econômico que gerou a crise financeira internacional que os mercados vivem atualmente.
Grajew rebateu as críticas de que o FSM é uma instância de reclamação, que não propõe soluções. Segundo ele, as alternativas foram apontadas ao longo dos anos, mas não tiveram repercussão entre os responsáveis pelas políticas públicas e pelos investimentos mundiais.
"Diziam que os recursos eram limitados. Agora na crise, de repente, apareceram trilhões de dólares para socorrer montadoras, bancos e empresas falidas e que poderiam ter sido usados para combater a pobreza, melhorar saúde, a educação", argumentou.
Na avaliação de Grajew, o dinheiro repassado até agora a empresas e instituições financeiras para amortecer os impactos da crise seria "mais que suficientes" para combater a fome, a pobreza e melhorar o acesso à saúde e à educação no planeta.
O ativista atribuiu parte da falta de visibilidade para as propostas do Fórum à cobertura da imprensa, que, segundo ele, tenta "folclorizar" a reunião.
A representante do Fórum Social Europeu, a italiana Rafaela Bolini, lembrou que nas primeiras edições do megaevento os movimentos sociais e organizações da sociedade civil que "denunciavam a globalização neoliberal e o mercado capitalista" sofreram criminalização e até repressão política.
"E a denúncia era verdade. A denúncia dos perigos para a humanidade, para o planeta e para a natureza era verdadeira. E estamos aqui porque essa realidade precisa ganhar visibilidade", enfatizou Rafaela. Um dos desafios do FSM, segundo Rafaela, é evitar a fragmentação e construir propostas e alternativas à crise. "A solução para esta crise não será real se vier dos mesmos que a criaram", avaliou.
Além dos presidentes, 12 ministros de Lula devem comparecer - dentre eles, Dilma Rousseff (Casa Civil), possível candidata à Presidência em 2010.
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