sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Envolverde - Dois conflitos, uma saida


Por Zoltan Dujisin, especial para IPS/TerraViva

Ambos conflitos parecem eternos e sem solução. Em ambos as vitimas sao principalmente civis. E em ambos os interesses dos poderes ocidentais jogam um papel fundamental. A paz na Colômbia e na Palestina é realista, mas muito dependera da comunidade internacional.

“Um mundo sem guerras é possível” parecia querer dizer a plateia que abarrotou a sessão do mesmo nome promovida pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Sem uma cadeira que sobrasse, o publico ocupou o palco, ficou em pé, sentou-se no chão ou filmou os discursos para mostrá-los mais tarde aos que não conseguiram entrar.

“Cada conflito tem uma solução pacifica, politica e negociada, mas como se pode considerar os EUA um intermediário da paz quando se comporta como um agente da guerra e e o maior apoiante de Israel?” Emir Sader da CLACSO disse na abertura duma discussão que não se afastaria muito dessa linha de pensamento.

Entre o conflito colombiano e o palestino, ganhou o ultimo, claramente mais mediático, atual, e simbólico das tensões originadas pelos poderes ocidentais no mundo . A guerra civil da Colômbia, um dos países onde mais violações de direitos humanos se registam no mundo, raramente desperta o interesse dos mass media, que preferem focar-se no 'folclore' indígena de Morales ou Chavez e nos seus ataques ao setor privado.

A plateia começou por ouvir avidamente as palavras de Jamal Juma, coordenador do movimento palestino Stop the Wall: “A principal ausência e a da lei internacional, a paz so sera possível quando o Ocidente disser a Israel que este deve parar a guerra, mas a Europa e os EEUU bloqueiam resoluções exigindo a Israel que cumpra a lei internacional,” apontando que Telavive “nem sequer reconhece a 4a convenção de Genebra” relativa a protecção de civis em tempos de guerra. “A lei internacional tem que tomar precedência sobre o poder dos EUA e deixar de ser um argumento só quando convem aos mais poderosos,” acusou.

O palestino atacou os governos ocidentais por, nos primeiros dias do recente conflito em Gaza, mostraram-se ante as câmaras “cumprimentando políticos israelitas que tinham as mãos manchadas de sangue, numa demonstração de que aprovam o massacre.” Juma diz que este não foi o primeiro encorajamento indireto por parte do ocidente, lembrando a guerra do Líbano em 2006. “Essa guerra encorajou Israel a perpetrar mais e mais massacres, sabiam ter o apoio da NATO, também então usaram bombas de fósforo e como sempre ninguém foi julgado no tribunal penal internacional por crimes de guerra.”

Uma historia de violência “politica e não politica” com que os colombianos também convivem no dia a dia. “Estamos a falar duma democracia de baixa intensidade no país da América Latina que menos governos militares teve,” observou Alejo Vargas, da Universidade Nacional da Colômbia Alem da ausência duma dimensão étnica no conflito, o académico notou outra diferença importante em relação a Israel: “Nos anos 80 o narcotráfico tornou-se num elemento central do conflito, penetrando a politica, a economia e a sociedade em geral e tornando-se numa fonte de financiamento importante.”

Tal como tem acontecido com os primeiros-ministros de Israel, o Presidente da Colômbia Alvaro Uribe aproveitou os desenvolvimentos em Washington para justificar a sua própria guerra num pais com “elites politicas tradicionalmente pro-americanas”. Tirando o máximo proveito da ideologia da administração Bush, Uribe “apresentou o conflito colombiano como mais um cenário da guerra global contra o terrorismo, e por extensão contra o narcotráfico Resta saber se o narcotráfico se combate matando os plantadores de coca ou detendo os consumidores de cocaína em Manhattan,” ironizou o colombiano.

Como em Israel, a sobrevivência politica de Uribe depende em grande parte numa politica de 'segurança' que cria tensões com países vizinhos. Os golpes que desferiu a guerrilha em 2008 sao uma importante fonte de popularidade mas as consequências do conflito e os métodos de Uribe enfureceram países vizinhos como o Equador e a Venezuela, onde sequestro e assassínios relacionados com o conflito colombiano começam-se a registar. “A crescente militarização das fronteiras na região dificulta a integração politica na região e fomenta a corrida armamentista, já muito estimulada pelo Plano Colômbia que obriga outros países a partilhar a interpretação Uribista dos problemas da região,” considerou Vargas.

As consequências do conflito colombiano contam-se em três milhões refugiados internos e 300 mil em países vizinhos, naquela que representa a pior crise humanitária no ocidente e a segunda no mundo depois do Sudão. Mas nesse ponto, Juma não vê o paralelo: “Não se pode falar num conflito quando os palestinianos enfrentam o quarto maior exercito do mundo.” Numa comparação que impressionou os participantes, O ativista palestino notou que os mortos no recente conflito de Gaza equivalem em proporção a 700,000 vitimas entre a população brasileira.

Nas suas considerações finais, Vargas e Juma manifestaram cautela e moderação ante o optimismo a que a “Obama-mania” deu asas. “Sem ser ingenuos, a mudança de ênfase na politica dos EEUU pode contribuir a encontrar saidas, mas o conflito sempre exigira uma solução politica, participação regional e a acção organizada da sociedade colombiana,” que segundo a estimativa de Vargas começa a favorecer a via da negociação. Mas tanto na Colômbia como na Palestina, esperam-se sinais encorajadores do mundo: “A paz e possível e ate fácil de atingir, mas se a situação politica internacional se mantiver no estado atual, a paz sera impossível,” concluiu Juma. (IPS/TerraViva)

* o autor é português

(Envolverde/IPS/TerraViva)

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