Opinião
Por CLÓVIS ROSSI
ZURIQUE - Já escrevi mais de uma vez neste espaço que Oded Grajew é meu poeta favorito, com sua luta incessante por um "outro mundo possível". Pena que seja só poesia o otimismo que ele exalou em artigo ontem publicado por esta Folha a propósito do Fórum Social Mundial, a inaugurar-se amanhã em Belém do Pará.
Diz Oded: "A mensagem "um outro mundo é possível" ganhou corações e mentes, mudou a agenda política, social e ambiental em muitos países, promoveu um forte questionamento do modelo econômico e civilizatório e da legitimidade das guerras e da violência".
Vejamos agora o que aconteceu com o próprio Oded desde 2001, o ano do primeiro Fórum Social: chegou ao governo, com Lula, na primeira grande chance de implementar a agenda da qual, aliás, é difícil discordar.
Pulou rapidamente fora do cargo de assessor especial porque, como disse certa vez, quase em lágrimas, na Brasília com a qual convivera só se pensa no poder, jamais na tal "agenda" (a generalização pode ser injusta, mas a hegemonia da agenda velha é notória).
Nem vou citar o resto do mundo pós-2001 para não ter que lembrar o 11 de Setembro, os ataques ao Afeganistão, depois ao Iraque, o despencar na fome de milhões de pessoas denunciado no meio do ano até pelos que, como o Banco Mundial, são responsáveis pela agenda do mundo de que Oded não gosta, a crise crônica de Darfur, a crise de emprego gerada pela crise financeira, Gaza e um imenso etc.
Assim mesmo, nada contra o sonho de Oded e da turma do "outro mundo". Desde que anotem a palavra de uma companheira deles, Marina Silva, também na Folha: "O grande desafio deste fórum pode ser o de transitar para fora dos seus próprios círculos, juntar forças e agir". Pois é, Oded, sair do "nós conosco mesmo" e agir é tão ou mais importante do que sonhar.
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