segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Folha - Crise mundial será o foco das discussões do Fórum Social

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Colapso financeiro confirmou previsões que o encontro fazia, afirma idealizador

Evento ocorrerá no Pará; no entanto, para sociólogo, organizadores deveriam ter escolhido os EUA para tentar retomar antiga visibilidade

Depois de três edições debatendo rachas internos e buscando novos formatos, o Fórum Social Mundial, cuja nona edição começa nesta terça-feira, em Belém (PA), vai ter como principal foco a crise financeira mundial. A edição deste ano terá menos atividades ligadas a autocríticas e mais discussões relacionadas à crise.

"Esta é a edição mais importante depois da primeira, em 2001", afirma Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo e idealizador do evento. Grajew diz que o colapso financeiro confirmou as previsões que o fórum fazia. "É só recuperar toda a nossa história. Sempre falamos isso. Mas a gente não fica feliz e contente com a crise. Queremos é um mundo com qualidade de vida."

Para ele, a eleição de Barack Obama nos EUA e a ofensiva de Israel em Gaza também aproximam o contexto internacional de assuntos que sempre estiveram no foco do fórum.
"A crise nos deu razão, mas criou uma urgência. Ela nos impõe uma agenda", diz outro fundador do encontro, Cândido Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Para ele, as discussões se voltarão mais à falência do que chamou de "economia-cassino" e menos à autoanálise.

Mas o debate sobre métodos e rumos do encontro continua sendo essencial, diz Grajew. "O fórum é muito novo. Estamos navegando por mares nunca antes navegados. Ele demanda uma permanente avaliação."

Desde 2005, quando foi realizado pela última vez em Porto Alegre (RS), o evento tentou formatos e sedes diferentes.

Em 2006, aconteceu em três países: Mali, Venezuela e Paquistão. Em 2007, foi para Nairóbi (Quênia), onde houve problemas de organização, como o preço da inscrições.
No ano passado, em vez de promover uma semana de debates, houve um dia de manifestações em 80 países.

Essas mudanças ecoavam incertezas e divisões internas da organização. Nos encontros, discutia-se a capacidade do evento de provocar transformações reais -crítica comum ao fórum. Nos bastidores, parte de seu Conselho Internacional lutava para que o fórum se filiasse a governos que consideram "progressistas", como o de Hugo Chávez (Venezuela).

Segundo a ala ligada aos brasileiros, isso era contrário à carta de princípios da organização.

Um dos membros do conselho, o sociólogo filipino Walden Bello, escreveu em artigo de 2007 que o fórum estava em uma "encruzilhada" e devia ceder espaço a "novos modos" de "resistência e transformação".

"Mas mesmo as reuniões do conselho estão hoje mais tranquilas", afirma Chico Whitaker, outro idealizador do fórum. Ele, Grajew e Grzybowski afirmaram que o tema deste ano, a Amazônia, se encaixa na busca de soluções para a crise.

Para o sociólogo Chico de Oliveira, no entanto, os organizadores deveriam ter escolhido os EUA como local do encontro para conseguir retomar a antiga visibilidade.

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