Agência Senado
BRASÍLIA - Diante de uma plateia de cerca de oito mil representantes de partidos e organizações de esquerda que lotaram o ginásio do Hangar - Centro de Convenções e Eventos da Amazônia na noite de quinta-feira (29), em Belém, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) pregaram a união dos países latino-americanos e a intervenção estatal para minimizar os efeitos da crise econômica sobre a população. Os presidentes participaram do debate "América Latina: os desafios da crise", do Fórum das Autoridades Locais da Amazônia (Fala), que integra a programação do Fórum Social Mundial .
Os chefes de Estado responsabilizaram a cobiça dos países ricos pelo atual descontrole da economia mundial.
- A crise não nasceu por causa do socialismo bolivariano do Hugo Chávez. Não nasceu por causa das brigas pela Constituição de Evo Morales. A crise nasceu porque, durante os anos 80 e 90, eles [os países ricos] defenderam a lógica de que o Estado não podia nada e que o deus mercado ia desenvolver o país e fazer justiça social. Esse deus mercado quebrou por falta de controle, por irresponsabilidade - disse Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o presidente, é uma ironia que os organismos internacionais - como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que sempre pregou que a receita para o desenvolvimento passava pelo corte de gastos na área social e pela liberdade do mercado em relação aos governos - estejam sendo obrigados a rever suas posições num momento em que grandes corporações são obrigadas a recorrer justamente ao Estado para sobreviver.
- Espero que o FMI diga ao Barack Obama o que ele tem que fazer para consertar a economia - ironizou o presidente brasileiro.
Rafael Correa comemorou o fato de estarem se reunindo ali, pela primeira vez, quatro presidentes latino-americanos. Para ele, o encontro demonstra que, na América Latina, a mudança de paradigmas que a crise demandava já havia começado há muito tempo.
Evo Morales lembrou que, nos últimos anos, diversas crises vêm sacudindo o mundo - como a crise energética e a das mudanças climáticas - e todas elas, em sua avaliação, têm em sua origem a depredação dos recursos do planeta pelo capitalismo. Assim, para ele, a eclosão da crise financeira é, na verdade, uma grande oportunidade de inversão de comportamentos.
- Se não formos capazes de sepultar o capitalismo, o capitalismo sepultará o planeta - sentenciou Morales.
Fernando Lugo reforçou que a América Latina não deve esperar pelos "responsáveis pela crise" para traçar suas próprias alternativas. Hugo Chávez, por sua vez, citou dado da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que estima que mais de 50 milhões de pessoas perderão o emprego no mundo neste ano.
Definições
O senador José Nery (PSOL-PA), que acompanhou os quatro presidentes visitantes durante a tarde desta quinta-feira num debate com os movimentos sociais, alertou que o mundo não deve tomar o pronunciamento dos chefes de Estado da América Latina como a palavra do Fórum Social Mundial em relação à crise econômica.
- As proposições mais significativas do enfrentamento da crise estão sendo discutidas de maneira mais ampla nessa gama de atividades promovidas pelos movimentos ao longo do fórum. O que eles [os chefes de Estado] disseram foi insuficiente - disse o senador.
A seu ver, os presidentes poderiam ter ressaltado, por exemplo, que os recursos públicos não devem ser utilizados para socorrer instituições financeiras, mas sim para promover políticas públicas de geração de empregos.
José Nery também lembrou que as definições gerais do Fórum Social Mundial serão anunciadas na Carta de Belém, que será apresentada no domingo, na Assembleia das Assembleias, que reunirá todos os participantes.
A senadora Fátima Cleide (PT-RO) compareceu ao evento com os presidentes, no Hangar, ao lado da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Nenhum comentário:
Postar um comentário