Governo prevê triplicar a emissão de gás carbônico com usinas termelétricas; remover obstáculos a hidrelétricas é essencial.
PARA enfrentar a crescente demanda por energia no país, o Plano Decenal de Expansão de Energia, divulgado pelo governo, prevê a criação de 82 unidades termelétricas até 2017, mais que dobrando o número atual -de 77.
As novas unidades -mais de 80% movidas a combustível fóssil- praticamente triplicarão as emissões de gás carbônico no setor. O aumento previsto é de 172%, levando a emissão de 14,4 milhões de toneladas para 39,3 milhões de toneladas ao ano.
Os dados coletados pela Empresa de Planejamento Energético, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, indicam que a expansão da matriz energética caminha na contramão dos esforços para minimizar os efeitos do aquecimento global, que podem ser obtidos sem a utilização do combustível fóssil -com a hidroeletricidade, por exemplo.
Ainda que o Brasil ostente uma matriz relativamente limpa na comparação internacional, não está conseguindo aproveitar em toda a extensão o seu potencial nessa área. A fonte hídrica deverá cair de 85,9% para 75,9% na participação na matriz elétrica, mesmo com a construção prevista de 71 novas hidrelétricas.
Essas usinas a água devem expandir em 28.938 MW a oferta de energia no país, cerca de duas vezes o suprimento de Itaipu. Trata-se de um valor quase duas vezes maior que o acréscimo estimado para as térmicas -15.305 MW. Ainda assim, para efeito de comparação, a expansão da hidroeletricidade será de 39%, contra 527% das usinas movidas a óleo combustível e diesel.
A opção por expandir as termelétricas contraria o Plano Nacional de Mudança Climática apresentado em dezembro pelo governo Lula. Pelo projeto, foram incluídas pela primeira vez metas quantitativas para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Isso aconteceria pela diminuição do desmatamento da Amazônia em 70% até 2018 -as queimadas de florestas são responsáveis por cerca de três quartos das emissões desses gases no país.
O Brasil tem recursos abundantes e precisa equacionar melhor o futuro da sua infraestrutura energética. Investir em fontes alternativas -como a energia eólica- é necessário, mas não terá escala para suprir as necessidades da demanda crescente.
Também é necessário aumentar a eficiência. Estima-se que 16,1% de toda a eletricidade produzida no país seja desperdiçada. O plano decenal prevê diminuir o índice de perda para 14,8%, mas poderia haver ganhos maiores, em especial na distribuição.
No curto prazo, é necessário desatar o nó político-jurídico do aproveitamento hídrico da Amazônia. Enquanto as obras de novas hidrelétricas estiverem submetidas a disputas ambientais com potencial de arrastaram-se por anos, a poluição avançará na forma de mais termelétricas.
Eis o paradoxo: os radicais do ambientalismo, quando bloqueiam a exploração racional da bacia amazônica, ajudam a despejar toneladas adicionais de gás carbônico na atmosfera.
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