No Mosaico de Unidades de Conservação de Carajás, no Pará, os extrativistas adotaram o manejo sustentável da folha de jaborandi e revolucionaram a coleta, transformando a atividade predatória em coleta produtiva sem agressão à natureza. Para consolidar a exploração responsável do jaborandi e promover uma relação de trabalho mais justa entre os folheiros e a empresa de beneficiamento, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apoiou e intermediou a iniciativa da cooperativa dos colhedores da folha de firmar uma parceria com a empresa Vegeflora Extrações do Nordeste Ltda., empresa do grupo Centroflora, especializada em extração vegetal para o setor químico-farmacêutico.
Considerada também um avanço na relação de trabalho com os folheiros, a parceria proporcionou uma nova forma de exploração econômica do produto. Diferentemente do que ocorria até década de 1990, em que os próprios extrativistas custeavam os instrumentos usados e as condições de trabalho para a coleta as folhas, agora, com a parceria, a Vegeflora comprometeu-se a fornecer toda a infra-estrutura de que os folheiros precisam para trabalhar. No acordo, ela também se comprometeu a comprar todas as folhas oriundas da coleta, em torno de 60 toneladas, no período determinado no acordo.
Os folheiros, por sua vez, comprometeram-se a realizar o trabalho de acordo com o plano de manejo, respeitando as regras da coleta sustentável. Dentre as regras determinadas, destaca-se a poda dos arbustos. Em vez de arrancar a planta, eles devem podá-la, levando em consideração características da região e do vegetal, como, por exemplo, a altura dos arbustos, os quais devem ser podados entre 0,50 m e 1,50m, e preservar os que estão acima dessa altura para que sirvam de porta-sementes. Além disso, a poda deve ser feita com tesoura apropriada, de forma que não danifique o arbusto e possibilite a manutenção do crescimento.
Para realizar a coleta, os extrativistas acampam na floresta, a cada mês, por um período de 20 dias. Feito isso, eles ficam mais uma semana acampados para realizar o trabalho de recuperação dos arbustos que não têm condições de produzir. Adotado em 1997, o plano de manejo para uma exploração racional do jaborandi foi elaborado pela Merck Brasil, a mais atinga empresa do ramo farmacêutico e químico do mundo que atua no Brasil desde 1923, em conjunto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Companhia Vale do Rio Doce.
Extinção
Antes da adoção do plano de manejo, os extrativistas não seguiam nenhuma método de coleta das folhas. De forma desordenada e predatória, costumavam arrancar o arbusto para retirar dele somente as folhas. Além disso, a pressão da indústria farmacêutica, que demandava cada vez mais o produto, bem como da pecuária e da cultura da soja, que avançaram sobre a região, o jaborandi verdadeiro entrou em extinção e foi incluído na lista da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites) em 1982.
No ano passado, o Ibama atualizou a lista e o jaborandi verdadeiro ainda consta como uma das espécies ameaçadas de extinção. Em várias regiões, como nas proximidades de Paraupebas, ele não existe mais. Planta da mesma família da laranja e do limão, o jaborandi ainda resiste à intensa demanda do mercado farmacêutico e à antropização da região em que ocorre. Em Carajás há, atualmente, três mil hectares de reboleiras naturais. Segundo o analista ambiental do ICMBio, Fabiano Gumier Costa, trata-se de um estoque natural considerável que deve ser manejado de forma consciente e responsável.
Matéria-prima largamente usada pela indústria farmacêutica na fabricação de remédios à base de policarpina, a folha do jaborandi verdadeiro (Policarpus microphyllus - Rutaceae) é usada na fabricação de colírio e de remédios para cirurgias e tratamentos oftalmológicos, sobretudo o glaucoma.
O jaborandi é um arbusto que ocorre, normalmente, nas áreas de tapanhoacanga (ou canga, um tipo de rocha rica em minério de ferro e região de campo rupestre) e de carrasco (área de formação vegetal densa e de transição entre a canga e a floresta amazônica). No Brasil, ocorre, sobretudo, no sudeste do Pará, Piauí, Ceará, Maranhão. Em Carajás, o vegetal é mais explorado em Serra Sul, o maior platô da região e onde a Companhia Vale do Rio Doce instalou o maior projeto de mineração do mundo.
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