Por Aldrey Riechel
Apesar de a Amazônia representar 60% do território nacional, os Pontos de Cultura na região ainda são poucos
Legitimar a cultura local e dar suporte para que essa continue existindo. Essa é a meta do programa Pontos de Cultura, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC). O programa financia através de editais até R$ 185 mil reais para ações que já acontecem em todo o país. A região Norte, onde se encontra a maior parte dos estados amazônicos, apesar de toda sua diversidade ainda possui o menor número de projetos apoiados.
Segundo site do Ministério da Cultura, existem 108 pontos de cultura na Amazônia Legal, sendo 14 no Acre, 5 no Amapá, 6 no Amazonas, 15 no Mato Grosso, 19 no Maranhão, 19 no Pará, 5 em Rondônia, 18 em Roraima e 7 no Tocantins. Em todo o Brasil o número chega a 850 e só em São Paulo existem 84 Pontos.
"Na região Norte existe uma riqueza muito grande, mas o poder público não está sempre presente", comenta Abertan Batista, coordenador do programa Pontos de Cultura na região Norte. Segundo ele, o projeto é fruto do reconhecimento do trabalho cultural que as pessoas já vinham realizando. "O estado nem sempre reconheceu isso e ainda tem dificuldade para entender", diz, e acrescenta que esse é o grande desafio e inovação dos Pontos de Cultura.
No meio de tanta pluralidade e manifestações culturais que divergem entre as regiões, os projetos da região Norte encontraram uma convergência, como explica Batista: "a relação humana com o meio ambiente". Os moradores da região possuem um tempo diferente, já que convivem com a natureza, e isso reflete em suas manifestações culturais. "O amazônida só será amazônida quando ele compreender isso, que a nossa vida só existe por causa dos ciclos da natureza. Então o trabalho cultural só tem sentido se valoriza isso, se ele vive isso".
Na Amazônia, os proponentes aproveitam os recursos naturais disponíveis na natureza, como os projetos que desenvolvem trabalhos com cuia (que vem da planta chamada cuieira). "Este trabalho vai desde o cuidado com a planta, a coleta do fruto, o tratamento que prepara a pintura ou grafismo até a secagem". Existem também trabalhos com o miriti, onde são retiradas as folhas para a produção de brinquedos, além da proposta que esse conhecimento seja passado entre as gerações.
"O nosso tempo é o tempo da noite, da chuva, de plantar de colher. O tempo que tem peixe, o tempo do defeso. Temos um jeito de falar diferente. No Pará, por exemplo, existem 5 regiões com termos diferentes. Os Pontos de Cultura expressam essa diversidade", comenta o coordenador.
O programa faz parte do projeto Cultura Viva, do MinC, e contempla iniciativas de arte, cultura, cidadania e economia solidária dentro das comunidades. Através de editais as organizações podem potencializar suas ações recebendo recursos em parcelas semestrais do Governo Federal para comprarem equipamentos, instrumentos, materiais para produção audiovisual, contratação de profissionais para cursos e oficinas, entre outros.
Programa de índio
Na aldeia de Vila Jordão Rio Branco, no Acre os indígenas encontraram uma forma de fortalecer a cultura usando de novas tecnologias. O projeto Vídeo nas Aldeias, um dos Pontos de Cultura da região Norte, acontece desde 1987 e é considerado um dos percussores de produção audiovisual indígena no Brasil, tendo recebidos prêmios nacionais e internacionais por suas produções.
Vicent Carelli, indigenista e também diretor do projeto, afirma que o programa é importante já que incentiva projetos culturais indígenas "É um evento da maior importância política no sentido que nunca houve um subsídio a projetos culturais indígenas, isso é a grande novidade".
O trabalho começou com a oficina de formação na aldeia Xavante de Sangradouro, quando o Vídeo nas Aldeias começou a distribuir equipamentos de exibição e câmeras de vídeo para as comunidades, e dessa forma criou uma rede de distribuição dos vídeos produzidos pelos indígenas. Em 2000 foi fundada uma Organização não Governamental (ONG) que trabalha como centro de produção de vídeos e uma escola de formação audiovisual. Já participaram etnias Kuikuro, Huni kuri e os Paraná, os Ikpeng, os Ashaninka e Xavantes.
Ligando os pontos
Além dos pontos de cultura existem também os Pontões, criados quando existe um número significativo de Pontos de Cultura. O Ministério da Cultura propõe a constituição de Pontões como espaços financiados por uma parceria com empresas públicas e privadas e governos locais, e terá a missão de constituir um espaço de articulação entre os Pontos. Existem 43 Pontões espalhados pelo Brasil. Na Amazônia Legal, o número não chega a 15.
Este programa pretende se estender, permitindo que os estados também criem Pontos de Cultura. Para Batista, todos têm responsabilidade pela cultura, por isso o projeto está se estendendo para os Estados e Municípios. "O programa está avançando, o governo federal tem esse reconhecimento e começou o debate, hoje já temos governo federal e estadual. Com isso vamos ter um avanço significativo na região Norte. Estados que possuem três pontos hoje vão passar para 40", conclui.
*A matéria foi alterada para correção de informação
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