Por Anderson Luís Araújo
Apenas em 2008, as madeireiras demitiram mais de 7 mil empregados
Não foi um ano bom para o setor florestal. Empresas fecharam, mais de sete mil postos de trabalho foram extintos, a queda em valores exportáveis foi de mais de 19,4% e reduziu em cerca de 35% a quantidade de produtos exportados. O diretor técnico da Associação das Indústrias Exportadores de Madeira do Estado do Pará (Aimex), Guilherme Carvalho, reitera que foram muitas as dificuldades em 2008 e não arrisca um prognóstico otimista para o ano que vem. 'Tudo vai depender do que será exposto na posse do novo presidente dos Estados Unidos, no dia 20 de janeiro. Se ele acenar com uma ajuda generosa aos principais setores econômicos, é possível que 2009 seja um ano melhor', avalia.
Carvalho expõe alguns números que apontam 2008 como um período conturbado para o setor que move mais de R$ 3 bilhões por ano na economia paraense. De janeiro a novembro passados, o volume de exportação foi de apenas R$ 593,8 millhões, enquanto que no mesmo período de 2007, o valor exportado alcançou os R$ 732,6 milhões, equivalente a 19,4% a mais do que neste ano. Queda também considerável houve com a quantidade de produtos florestais exportados. O último balanço, também feito entre o primeiro e o 11º mês, mostra que foram exportados em 2008 612.965 toneladas, 35% a menos do que no mesmo intervalo do ano anterior, quando os exportadores venderam 949.290 toneladas.
Na última pesquisa sobre emprego no setor florestal, analisando números de janeiro a setembro passado, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) apontou que houve extinção de mais de sete mil postos de trabalho formal nas empresas. Guilherme acresenta que houve também o fechamento de indústrias tradicionais no Estado, como a Madernorte e a Eidai do Brasil. Esta última com mais de 30 anos de funcionamento.
O diretor aponta vários fatores. Dentre eles, a primeira grande crise norte-americana do ano, iniciada no setor imobiliário dos Estados Unidos, e depois a contaminação do setor financeiro internacional, em agosto, quando a economia mundial se viu ameaçada com quedas vertiginosas nas principais bolsas de valores e reduções bruscas de acesso ao crédito.
Como a crise afetou um o setor que mais importa produtos da floresta, a construção civil, Carvalho avalia que somente a estabilização no principal comprado da madeira brasileira pode trazer melhores ventos para os negócios no Pará, em 2009. 'Vamos ver como se porta o mercado norte-americano', assinala. Dentre outras circunstâncias que atrapalharam os exportadores está a falta de agilidade dos órgõas ambientais em liberar os projetos de manejo. No entanto, a crise financeira instalada e sem data para acabar foi o grande vilão dos madeireiros
No balanço final de ano da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), no último dia 11, o vice-presidente da entidade, Sidney Rosa, também comentou que o setor florestal passou por maus bocados em 2008 por causa da crise. 'Quase todos os contratados foram suspensos. Poucos exportadores estão vendendo e os que continuam estão tendo que renogociar os preços', sustentou ele e lamentou: 'os Estados Unidos suspenderam praticamente todos os contratos de compra com empresas paraenses'.
Rosa comentou na ocasião que os produtores paraenses já viviam há algum tempo as dificuldades devido a falta de infra-estrutura do poder público para atender a demanda de projetos de exploração dos recursos da floresta. 'Já tínhamos perdido uns 40% em volume de exportações. A crise internacional veio piorar e muito essa situação', assinala. Os importadores ainda estão revendo seus parâmetros para se adequar à turbulência do mercado e um dos primeiros comportamentos é parar as atividades para analisar novas estratégias. 'É uma grande crise, sabemos disso. Mas como se sobrepor a tudo isso? Só Jesus', disse o vice-presidente da Fiepa.
Governo acena com o lançamento de florestas para uso sustentável
Em 2009, o governo do Estado do Pará deve lançar no segundo semestre o primeiro edital de licitação para concessão de áreas de florestas para uso sustentável em território paraense. A presidente do Instituto de Florestas do Estado do Pará (Ideflor), Raimunda Monteiro, adianta que serão cerca de 150 mil hectares disponíveis para a atividade florestal. A faixa de terra está localizada dentro de uma área de 1,312 milhão de hectares, com cinco glebas, distribuídas por Santarém, Aveiro e Juruti, no Oeste do Pará, cujo plano de uso elaborado pelo Estado será divulgado, em fevereiro próximo.
O governo do Estado está concluindo os estudos na área de limitação administrativa provisória que compreende as glebas Nova Olinda, Nova Olinda II, Curumucuri e Mamuru. De acordo com a presidente do Ideflor, o objetivo é viabilizar as ações de ordenamento territorial, como a identificação de áreas destinadas por direito às comunidades tradicionais; manutenção e conservação da biodiversidade; e reconhecimento de áreas a serem exploradas economicamente por meio de manejo floretal.
Raimunda Monteiro explicou que a primeira área a ofertar madeira legal no Estado através das concessões é a maior área de terras não destinadas, isto é, uma grande fatia dos mais de 4,7 milhões de hectares em áreas que podem ser exploradas economicamente. Dos mais de 15 milhões de hectares em florestas estaduais, a presidente do Ideflor comenta que, em 2010, quando terminar os planos de manejo das áreas conservação estadual da Calha Norte, haverá oferta de madeira legal em mais de 8 milhões de hectares no Pará. 'Uma forma nova de trabalhar a reestruturação da economia florestal no Estado e pacificar conflitos', assinala.
Segundo ela, o ano de 2008 também foi decisivo para ações de reflorestamento, como a implantação dos laboratórios de sementes florestas nativas em Tailândia, Altamira e Marabá. De acordo com Raimunda, são unidades importantes para estimular a produção de mudas e ampliar os programas de reflorestamento, como o 'Um bilhão de árvores' e o 'Campo cidadão'. 'Dois mil e oito serviu para sensibilizar instituições públicas, mobilizar a sociedade, trabalhar a certificação e a capacitação de coletores', afirmou.
Além dessas ações, o Estado deve revitalizar um viveiro de mudas de seis hectares em Marabá, o qual funcionará como espaço de produção e experimentação para todo Estado. A presidente do Ideflor vê ainda com otimismo a implantação do Parque Tecnológico de Santarém, voltado também para produção de tecnologia em produtos florestais, e da Universidade do Oeste do Pará, uma realidade que também deve começar a dar frutos já neste ano para o setor florestal. (ALA)
Segmento perde espaço para a mineração na economia paraense
O que está acontecendo agora com o setor florestal assemelha-se muito ao fim de - mais um - ciclo econômico, entre os vários que sempre caracterizaram a economia do Estado do Pará desde os tempos coloniais. Mas ainda é cedo para afirmar, com toda a certeza, que o declínio do setor madeireiro será perene e irremediável. O segmento já teve uma importância tão grande, que fez um dos presidentes da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa).
O que é certo é que a economia de base florestal já não tem mais condições de voltar a ocupar a posição de grande impulsionadora do PIB paraense. Essa posição já foi definitivamente ocupada pelo setor mineral. Hoje não admiraria nada se o próximo presidente da Fiepa saísse de alguma empresa mineradora. Isso, é claro, se a crise econômica mundial, não levar a reboque, também, a mais nova esperança de desenvolvimento - e de investimentos - para o Estado.
Em setembro deste ano, a indústria madeireira chegou a apresentar um leve fôlego, demonstrado pelo saldo positivo no número de postos de trabalho. Mas foi um suspiro muito curto. O saldo foi de apenas 173 vagas. Muito pouco, no entanto, para fazer frente à retração acumulada no setor. Apenas em nove meses de 2008, a indústria da madeira perdeu mais de 5 mil vagas com carteira assinada. Em 2007, o saldo negativo acumulado foi de 3.020 postos de trabalho.
Dentro das atividades econômicas, apenas a Classe Fabricação de Artefatos de Madeira apresentou saldo positivo de emprego formal no comparativo entre admitidos e desligados. Nas demais, houve queda de empregos formais. A maior queda entre as classes da indústria da madeira no Pará ficou com as serrarias, que admitiram 6.039 pessoas, mas desligaram 10.000, gerando um saldo negativo de 3.961 postos de trabalho. Em seguida aparece o segmento de madeira laminada e compensada com um saldo negativo de 1.529 vagas.
Ao longo de todo o ano passado, a pesquisa regional de produção industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou a indústria madeireira como a única a apresentar desempenho negativo entre os segmentos industriais paraenses. Para ter a dimensão do que vem sendo essa queda, em agosto de 2008 a atividade do setor madeireiro, medida pelo IBGE, apresentou retração de 25% em relação ao mesmo período de 2007, pressionada pela menor produção de madeira compensada e serrada. Entre janeiro e agosto deste ano a pesquisa do IBGE apontava uma retração acumulada de 18,9% na atividade da indústria madeireira paraense.
Agosto está entre os meses de pico da safra de madeira no Estado, que começa exatamente com o período de estiagem, em meados do ano. É bom destacar, ainda, que o ano de 2007 já não foi considerado bom para o segmento. É que em 2007, a transferência da responsabilidade - do governo federal para o estadual - de liberação dos planos de manejo acabou criando um congestionamento de pedidos que, até agora, não foi eficientemente resolvido.
Para o setor florestal, resta esperar por dias melhores. Ou se conformar com o fim de um ciclo. Mas isso apenas o futuro poderá dizer.
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