Por Mauro Zanatta
Alarmado com a tendência de avanço do desmatamento na Amazônia, que atingiu uma área de 1.123 km2 em abril, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lançou ontem novas medidas de arrocho ambiental e reafirmou a decisão de governo de suspender a concessão de crédito rural a produtores em situação ambiental e fundiária irregular na região.
Ao avaliar os dados da devastação da Amazônia, divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o ministro creditou a tendência à elevação dos preços internacionais da soja e da carne bovina, o que pressionaria o avanço da fronteira agrícola sobre a floresta, e alertou que seguirá acelerado o ritmo da derrubada da floresta neste ano. E também previu uma piora da situação até o fim da época de seca na região, em setembro. O total devastado em abril equivale à soma dos municípios de Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). O Estado de Mato Grosso respondeu por 70% da área derrubada no período. Roraima foi responsável por 25% do total.
O reforço no pacote de arrocho ambiental contará, a partir deste mês, com a apreensão do gado criado em áreas embargadas pelo governo, a criação de um "batalhão verde" com 500 homens da Força Nacional para atuar nas regiões mais críticas, a ampliação da área de unidades de conservação no sul do Amazonas e a notificação pelo Ibama a siderúrgicas, frigoríficos, madeireiras e tradings para que evitem transações comerciais com municípios ou propriedades em situação irregular. O Ibama promete 116 operações nos 36 municípios campeões do desmatamento no Pará, Mato Grosso, Rondônia e sul do Amazonas até julho.
O ministro Carlos Minc afirmou que a situação da devastação da floresta é "muito pior do que parece", de acordo com a tendência verificada pelo Inpe. "O dado é preocupante. Não vamos brigar com o termômetro. As medidas (de combate) são recentes e ainda não renderam frutos", avaliou. Ele defendeu o Inpe, atacado pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), como "instituição seríssima". E completou: "O pior está por vir. Não podemos dormir no ponto. Faltam meses barra-pesada." Ele ainda arriscou previsões sobre a tendência. "Muito dificilmente (o desmatamento) será menor neste ano porque saímos de níveis muito baixos e os preços da soja e da carne de gado estão em alta", disse.
O alerta de Minc foi o primeiro de uma autoridade federal sobre a tendência do desmatamento para 2008. "A gente pode torcer, rezar, ninguém quer que o desmatamento aumente. Acho que no fim do ano dificilmente teremos um número abaixo que o de 2007."
Sobre as divergências que teve com o governador Blairo Maggi, seu principal adversário político na Amazônia Legal, Minc afirmou ter conversado ontem mesmo por telefone com o dirigente estadual. E prometeu que fará uma visita para fiscalizar as ações do Estado, considerado o maior problema para a contenção do desmatamento na região amazônica. "Há conflitos naturais que são dirimidos. Posso ter subido algum decibel a mais (nas críticas a Maggi)", reconheceu. Mas ressaltou a vontade de trabalhar em conjunto com Maggi.
Minc também defendeu a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que proíbe a concessão de crédito a produtores em regiões embargadas. Segundo ele, o governo não voltará atrás da decisão de manter as regras aprovadas em fevereiro. "Me sinto prestigiado pelo presidente", afirmou. Apoiado pela bancada ruralista, Maggi e governadores da região pressionam o presidente Lula a relaxar as regras e postergar a entrada em vigor da resolução. "Não vejo que alguém vai voltar atrás. Ainda mais com esses dados (de desmatamento) preocupantes. A resolução não inventou nada. Está tudo em leis e decretos anteriores", disse.
Minc lembrou que 1 de julho, quando entrará em vigor a medida, não é uma "data fatídica" e que os produtores podem apenas "dar entrada" nos papéis para regularizar a situação fundiária e ambiental para garantir a concessão de crédito rural dos bancos.
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