sexta-feira, 20 de junho de 2008

Valor - Maggi e Cassol exigem compensação a produtores


Por Mauro Zanatta

Apontados como os principais vilões do desmatamento ilegal da Amazônia, os governadores de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido), partiram ontem para o ataque, ao exigir compensação financeira a produtores rurais pela preservação da floresta, a regularização fundiária com o fim de assentamentos da reforma agrária na região e a criação de programas federais de auxílio aos Estados.

Em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, os governadores afirmaram, em tom de ameaça, que a pressão do governo sobre o setor rural na Amazônia poderia gerar uma escalada inflacionária nas grandes cidades, em razão da redução da oferta de alimentos.

"Os efeitos e os impactos podem ser pesados para o Rio e São Paulo. Há uma tênue linha entre as ações restritivas (do governo) e a oferta de alimentos. Isso vai pressionar o equilíbrio do mercado e os preços", disse Maggi, em referência ao corte de crédito oficial a produtores em situação ambiental e fundiária irregulares a partir de julho.

"Sou legalista, mas precisamos de prazo. Tirar o crédito asfixia o Estado", disse Maggi. Ele sugeriu a restrição apenas a abertura de novas áreas.

Maggi também questionou as ações de apreensão de gado "pirata" em fazendas de áreas irregulares anunciada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. "Das 26 milhões de cabeças de Mato Grosso, pelo menos 10 milhões são 'piratas' pelo critério do governo."

Ele sugeriu a criação de um amplo plano de recuperação de pastagens degradadas a juros subsidiados, o que poderia induzir o aumento da produtividade da pecuária na região e abrir espaço para lavouras de grãos sem pressionar a floresta. "Poderíamos aumentar a lotação de uma para até cinco cabeças por hectare. A pecuária morre com o tempo e avança sobre outras áreas. Temos que gastar com isso para aliviar a situação", disse.

Entre bravatas e ameaças ao governo federal, o governador de Rondônia chegou a propor a criação de um imposto permanente para financiar a preservação e a conservação da Amazônia. "Se tem para a Saúde, porque não colocar 0,05% como uma contribuição social sustentável (CSS)?", disse.

Cassol reivindicou também a cobrança de impostos de empresas multinacionais e fabricantes de automóveis para financiar a preservação da floresta. "Temos que cobrar dos bacaninhas americanos que somos o pulmão do mundo, mas nunca colocaram o pé na Amazônia", afirmou ele. Segundo Cassol, é preciso incentivos fiscais para agregar valor à matéria-prima produzida na Amazônia. "Porque não fazer sapato de couro do gado da região?", perguntou.

O governador de Rondônia também reclamou do pouca proximidade do governo federal com o tema. "Falamos com a ministra Marina (Silva) apenas uma vez em cinco anos", disse Cassol. "Nunca ganhei um carrinho de mão, uma bicicleta do governo federal. Vejo muito discurso, mas ninguém coloca um tostão lá. O governo domina no peito e empurra com a barriga", criticou o governador.

Os dois governadores também voltaram a contestar os dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o ritmo de derrubada da floresta. "Nós reduzimos em 80% o desmatamento nos últimos quatro anos. Temos 64% do território preservados, intactos, e o orçamento ambiental só perde para a segurança pública em Mato Grosso. Devíamos ser elogiados pelo exemplo de combate ao desmatamento", reivindicou Maggi.

Para ele, o desmatamento real no Estado foi de 10% do divulgado pelo Inpe em janeiro deste ano. No mesmo tom, o colega Cassol emendou: "Os grandes não têm interesse em derrubar a floresta porque sabem que o ferro é grande. Quem derruba é o pequeno. Fui madeireiro e saí pela pressão do governo contra o setor", disse.

Crédito da imagem: Ruy Baron/Valor

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