Por Soraya Aggege
'Se eu desse uma trégua seria preso por prevaricação', explica ministro
SÃO PAULO. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu ontem que o desmatamento da Floresta Amazônica continua crescendo e que, por isso, não poderá abrir mão de medidas repressivas, sob o risco de ser “preso por prevaricação”.
Minc acaba de receber o relatório de maio do monitoramento sobre o desmate, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais (Inpe), mas não quis adiantar os índices, que serão divulgados pelo próprio instituto na próxima semana.
— Não há evidências de que consigamos baixar os índices, apesar de todas as medidas.
Se o Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real) já vem aumentando de novembro a maio, seria uma visão irreal dizer que o desmatamento vai baixar — disse ele, lembrando que os próximos meses, de junho a setembro, historicamente concentram o maior desmatamento.
Minc disse que será difícil o Brasil fechar o ano com redução nos índices. Em 2007, foram desmatados 11.224 km2 e, em 2006, 14.039 km2, segundo o Inpe. A avaliação é de que se mantenha uma média variável entre 14 mil e 15 mil km2. Para ele, mesmo que a taxa continue crescendo, a média de desmate na última década deve ficar dentro da normalidade.
Minc contou que conversou com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, um líder do agronegócio, e que ele sugeriu uma trégua do governo, como a redução da Operação Arco de Fogo e o adiamento da restrição de crédito do Banco Central a desmatadores.
— Dei um cafezinho ao Maggi.
E sem estricnina. Maggi queria uma trégua (das medidas represssivas). Mas eu expliquei a ele que seria preso se fizesse isso. Preso por prevaricação — brincou, numa referência ao bate-boca anterior que teve com o governador.
Minc, que participou ontem da sabatina do jornal “Folha de S.Paulo”, disse que não se arrepende das críticas que fez a Maggi ao assumir a pasta. Para ele, foram necessárias para não passar a imagem de que, após a saída de Marina Silva, assumiria um “conciliador das questões ambientais”: — Não me arrependo, acho que foi uma forma de marcar posição, foi necessário.
O ministro, que completa um mês no ministério, deve anunciar hoje em Brasília dados da operação de apreensão de bois piratas na floresta, que ganhou o apelido de “Boi Voador”.
Segundo Minc, embora tenha virado motivo de piada, a operação flagrou imagens de caravanas de bois corsários, que pecuaristas estariam tentando livrar da fiscalização.
Na sabatina, Minc foi perguntado como conseguia integrar um governo com denúncias de corrupção e visões contraditórias do capitalismo uma vez que se definira politicamente “um ecologista e libertário”.
A resposta arrancou aplausos da platéia: — Eu me acostumei a conviver com a biodiversidade. E, antes, eu convivi na Assembléia Legislativa do Rio... Que não é nenhum jardim.
“Com Dilma, são dois para lá, dois para cá”, diz Minc O ministro reafirmou que tem feito negociações políticas com os demais ministros em torno das liberações ambientais.
Ele reafirmou que liberará licenciamentos rapidamente, inclusive do PAC, sem burocracia, desde que sejam sempre em troca de parques nacionais, reservas ambientais ou outras medidas em favor do meio ambiente.
— Eu disse à Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil), que minha relação com ela seria como uma bolero: dois para lá, dois para cá — brincou.
Minc explicou que o Fundo Amazônia, que prevê investimento de fontes internacionais para projetos que combatam o desmatamento, não compromete a soberania do país.
— Expliquei ao presidente Lula que esse fundo era mais autônomo que outros planos.
Ao contrário de outros programas, os doadores não têm conselhos e o órgão que executa é o BNDES — disse.
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