quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

OESP - Operação no PA autua madeireiras ilegais

Para transportar toras, seria preciso 500 carretas; apreensão pode dobrar

Eduardo Nunomura

Tailândia (PA) - Três madeireiras, Taiplac, Primavera e Tailaminas, no sul do Pará, foram responsáveis pela retirada ilegal de cerca de 10 mil metros cúbicos de madeira nativa da Amazônia. Para transportar o material, apreendido numa operação que mirou serrarias do município de Tailândia, foram mobilizadas 50 carretas - cada uma terá de realizar dez viagens. A ação de fiscalização é a primeira de 120 que serão realizadas neste ano. Os responsáveis pelas madeireiras não foram localizados.

Tailândia não está na lista dos 36 municípios que mais desmataram nos últimos meses, segundo a relação divulgada pelo governo federal em janeiro. Mas é um pólo madeireiro, o local de concentração de serrarias, onde se recebe, corta e despacha a madeira Brasil e mundo afora. Outras cidades paraenses já exerceram essa função no passado, como Paragominas, Altamira e Novo Progresso. Quando a floresta exaure seu potencial, não restando árvore que preste para corte, o parque industrial se muda para outra região. É o ciclo da destruição amazônica.

“Recebemos denúncias muito fortes interligando os crimes comuns e os ambientais”, explica o secretário de Meio Ambiente paraense, Valmir Ortega. De fato, Tailândia, com 65 mil habitantes, está na lista de cidades com elevados índices de homicídios.

A maciça presença das serrarias é visível já na rodovia PA-150, que dá acesso ao município. São mais de 150 na região. Elas são a razão de ser da economia local.

Madeireiros do sul do Pará reconhecem que muitas árvores continuam sendo retiradas ilegalmente da floresta, e depois o produto sai processado e legalizado por meio de documentação “esquentada”, com guias florestais falsificados. A pouca e ineficiente fiscalização facilita esse processo de esquentar as toras de jatobá, angelim, madeira branca e melancieira, algumas das espécies apreendidas nesta operação.

OS SEM-TORA

“Estamos no fim do ciclo da madeira em Tailândia, que deve durar mais uns cinco anos, no máximo”, diz o sócio da Indústria e Comércio de Madeira Catarinense, Ademir Bortolanza, um gaúcho criado em Santa Catarina que chegou à região há quase duas décadas. Sua empresa foi vistoriada ontem, mas não foi flagrada, num primeiro momento, com madeira ilegal como as citadas anteriormente. “Não tem muito mais (comércio clandestino), o que tem aparecido é madeira de invasões”, arrisca, lembrando que áreas invadidas recentemente têm oferecido o produto às serrarias.

Ortega admite que a madeira pode estar vindo de invasões, mas não as associa aos sem-terra. “Chamamos de sem-tora, eles formam uma quadrilha de fato, especializada em esquentar madeira.”

A operação, iniciada na segunda-feira, não tem prazo para acabar e pode dobrar a quantidade de madeira apreendida no município, tornando-se uma das maiores na Amazônia. Além da apreensão de madeira, houve interdição de carvoarias e de uma mineradora que extraía areia de forma ilegal. A ação de repressão ao desmatamento, com mais de 120 homens, é parte de operação do Ibama, polícias Militar e Civil do Pará e secretarias da Fazenda e do Meio Ambiente. O diretor nacional de Proteção Ambiental do Ibama, Flavio Montiel, salientou que, diferentemente de outras operações, esta teve a participação dos governos estadual e federal.

O sistema Deter, do Inpe, contabilizou a derrubada de 3.235 km² de floresta amazônica entre agosto e dezembro do ano passado. O Pará foi o segundo Estado que mais desmatou no período, com uma área devastada de 591 km², só atrás de Mato Grosso. Entre agosto de 2006 e julho de 2007, 50% do desmatamento de 11.224 km² ocorreu no Estado.

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