quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Jornal do Brasil - Combater o crime e garantir emprego

Editorial

Com 300 agentes e aparato de guerra, a Operação Arco de Fogo - a maior ação montada no país para combater o desmatamento na Amazônia - enfrenta dois desafios: a falta de fiscais do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e de projetos de requalificação da mão- de-obra dispensada pelas madeireiras autuadas, multados ou fechadas.

A força-tarefa integrada por policiais federais, agentes da Força Nacional de Segurança e servidores do Ibama desembarcou em Tailândia, 235 quilômetros ao sul de Belém, primeira etapa do ataque federal aos agressores da floresta, sem que o governo tivesse o cuidado de alertar e atrair a população para a causa. No município, 70% da economia são movidos a madeira. Os empregos são garantidos pelo setor e a cadeia produtiva envolvida é extensa: os exploradores (responsáveis pela identificação das árvores a serem cortadas na mata densa), os cortadores, os transportadores, os operários das empresas, estivadores, as indústrias da construção civil, moveleira e naval.

Sem informação, atiçados pelos exploradores ilegais, parcela desse contingente recebeu os funcionários públicos federais a pau e pedra. Fiscais do Ibama foram presos, rodovias acabaram bloqueadas. Seis mil trabalhadores, formais ou informais das madeireiras e carvoarias locais, ou perderam o emprego ou já foram avisados da dispensa. Os governos federal e do Pará prometem investir na qualificação profissional dos desempregados no futuro.

A governador Ana Júlia Carepa quer, primeiro, leiloar a madeira apreendida em Tailândia. Metade do valor arrecadado será endereçado aos órgãos envolvidos no controle e fiscalização da atividade para compra de equipamentos e contratação de agentes. A outra parte financiará os programas de requalificação da mão- de-obra e de geração de emprego e renda. Uma de suas propostas é a de criar a figura do agente ambiental voluntário a ser remunerado com um salário mínimo mensal.

Por enquanto, são apenas promessas. O problema social já atinge a economia local e se tornará mais grave paralelamente ao avanço da Operação Arco de Fogo por outros municípios do Pará e dos Estados de Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. Tão urgente quanto punir os desmatadores da floresta é o de criar empregos e financiar atividades legais que assegurem a sobrevivência dos municípios e trabalhadores que subsistiam, até aqui, pela ação de criminosos.

Projetos de desenvolvimento sustentável não são uma utopia. Exigem, contudo, investimento, sejam públicos ou privados, fiscalização constante para garantir emprego e renda à região e gestão competente. Não dá para brincar com a Amazônia.

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