domingo, 17 de fevereiro de 2008

OESP - Ministério optou por dar impacto a dados de desmate

Meio Ambiente recebeu números de retomada da derrubada da floresta pelo menos dois dias antes

Por Cristina Amorim

Os números que confirmaram o recente repique do desmatamento na Amazônia, referentes a outubro, novembro e dezembro de 2007, ficaram pelo menos dois dias nas mãos do Ministério do Meio Ambiente (MMA) antes do anúncio oficial. Eles foram fechados pela equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre os dias 18 e 21 de janeiro.

Partiu do MMA a decisão de convocar uma entrevista em Brasília em 23 de janeiro, com a presença da ministra Marina Silva, do secretário-executivo, João Paulo Capobianco, e do diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Pelo levantamento apresentado, de agosto a dezembro, foram derrubados 3.235 km2 de floresta, dos quais 1.922 km2 em novembro e dezembro, quando normalmente não há desmate por causa das chuvas.

No dia seguinte, em uma reunião de emergência convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma série de medidas foi anunciada para tentar conter a derrubada - que pode piorar, segundo a ministra, por causa das eleições municipais que ocorrem no final deste ano.

Na presença dos ministros Tarso Genro (Justiça), Dilma Rousseff (Casa Civil), Reinhold Stephanes (Agricultura), Nelson Jobim (Defesa), Sérgio Resende (Ciência e Tecnologia) e Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), além do diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Correia, Marina Silva afirmou que os bancos oficiais estariam proibidos de financiar máquinas e o plantio de safra das propriedades que tenham feito derrubada ilegal da floresta, e que fazendas envolvidas no crime ambiental seriam bloqueadas.

Na ocasião, Marina e Stephanes mostraram divergências em público, o que levou Lula a mandar um recado: não queria troca de acusações e sim tomada de providências. O anúncio teve repercussão internacional, especialmente grave porque o Brasil havia anunciado, nos últimos anos, que conseguira contornar o problema.

A descoberta, pelo Estado, de que o Inpe errou nos dados referentes ao desmatamento registrados entre junho e setembro e divulgados em outubro de 2007 - houve uma retomada da derrubada, mas em grau menor do que fora divulgado em outubro - abriu o flanco do instituto e do MMA, que passaram a ser questionados pelo governador de Mato Grosso e aliado do governo, Blairo Maggi (PR), pelo governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido), e por prefeitos de municípios campeões em desmatamento.

O próprio presidente Lula chegou a colocar em dúvida o trabalho do Inpe e falou em “alarde”. Ou, como disse o embaixador e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em palestra a alunos da Faculdade Armando Alvares Penteado, em São Paulo, “agiu como uma metralhadora giratória”.

Na última semana, Stephanes afirmou, em reunião com produtores, que irá propor ao governo a discussão sobre as regras do decreto 6.321, que aperta o cerco sobre a extração ilegal de madeira da Amazônia. Marina não concorda.

Nenhum comentário: