quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Folha - MT vê "erro de 100%" em dados de desmate

Por RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARCELÂNDIA (MT)

Segundo varredura feita pelo Estado em 79 pontos de dois municípios, desmatamentos apontados por Inpe são antigos

Seretaria afirma que até mesmo a ação de uma praga de pastagem foi confundida com derrubada; órgão diz que só aceitará "debate técnico"

Todos os pontos identificados como desmatamentos recentes pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no município de Marcelândia (730 km de Cuiabá) são antigos, fruto de interpretação equivocada das imagens de satélite ou mesmo inexistentes. O parecer é de uma equipe de fiscalização enviada a campo pela Secretaria de Meio Ambiente do governo de Mato Grosso.

Concluída ontem, a varredura no município -apontado como o líder do ranking de derrubadas na Amazônia nos últimos cinco meses de 2007, segundo o Inpe- foi determinada pelo governador Blairo Maggi (PR), que contestou os dados do órgão no dia da divulgação.

Outras 47 equipes continuam verificando os dados em municípios do norte do Estado.
Em Peixoto de Azevedo, que também integra a lista dos 36 maiores devastadores da floresta, todos os pontos de possíveis desmates recentes também foram descartados.

Ao todo, 79 pontos foram verificados nos dois municípios. A maior parte das áreas, de acordo com a secretaria, havia sofrido queimadas. Outras já haviam sido contabilizadas como abertas em anos anteriores. E houve casos em que imagens da ação de uma praga de pastagens -a cigarrinha- foram interpretadas como sendo novas derrubadas.

"Essa foi a realidade em 100% dos pontos. Não encontramos nenhum desmate que tenha ocorrido no último trimestre", disse o assessor técnico florestal da secretaria, Geraldo Ribatski. Segundo ele, o sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real) indica apenas mudanças na cobertura do solo.

"Se ocorre um incêndio na floresta, as folhas secam e caem. O satélite, que estava enxergando ali uma cobertura sempre verde, dá o alarme e nos diz que houve uma modificação qualquer. Isso não significa desmatamento", afirmou.

Em 30 de janeiro deste ano, Marcelândia sediou um controvertido evento político de contestação aos dados do Inpe. Em um sobrevôo de duas horas, a convite do governador, uma comitiva de ministros liderada por Marina Silva (Meio Ambiente) percorreu alguns dos pontos indicados pelo órgão, que também enviou seus técnicos ao município.

No mesmo dia, o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), disse ter de 95% a 97% de segurança de que os dados estavam corretos. "Em ciência nunca há 100% de certeza", considerou, para depois provocar: "É curioso que, quando o Inpe informava que o desmatamento estava caindo, ninguém questionava o dado".



Inpe diz estar preparado para debate técnico

DA AGÊNCIA FOLHA

O Inpe afirmou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que as evidências coletadas em campo sustentam, até agora, os dados obtidos em Mato Grosso pelo Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real).

Segundo a assessoria, o órgão está preparado para um debate técnico com o governo em que dados sobre o desmatamento no Estado sejam discutidos.
O fórum deve acontecer em março e deve ter a participação de técnicos de Mato Grosso, do Inpe, do Ibama e outras entidades.

Segundo o Inpe, é preciso saber quais são os critérios utilizados pelo governo de Mato Grosso para comparar as informações obtidas em campo e as observadas por satélite.

O Inpe afirmou que não poderia comentar, ontem, os argumentos do governo estadual porque não tem informações técnicas sobre como os dados foram obtidos em Marcelândia.

Segundo a assessoria, o Inpe é um instituto técnico, mas o governo do Estado quer tratar o assunto como questão política. A assessoria diz ainda que o Inpe não considera apropriado discutir o assunto "por meio da imprensa".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2802200822.htm

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