sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

OESP - 'Amazônia será novo argumento contra carne'

Andrea Vialli

O embaixador e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero disse ontem que o embargo europeu à carne brasileira tende a crescer, à medida que a Europa tomar conhecimento de que boa parte da criação de bovinos avança sobre a Amazônia.

“Embora a causa do problema seja a questão sanitária, é óbvio que nas entrelinhas existe essa preocupação, porque a região em que há menos controle sanitário é exatamente a Amazônia”, afirmou, em entrevista à Radio Eldorado. “À medida que o público europeu tomar conhecimento de que boa parte dessa carne é produzida por causa da destruição da floresta, vai ser mais um argumento de peso contra o Brasil.”

De acordo com dados preliminares do Censo Agropecuário 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o atual rebanho bovino brasileiro é formado por 168,9 milhões de cabeças. Os números, no entanto, não contemplam a totalidade do rebanho da região Centro-Oeste, que inclui os maiores produtores, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Estados que fazem parte da Amazônia Legal. Técnicos estimam que o total do rebanho em áreas da Amazônia Legal é de 75 milhões de cabeças.

Para Ricupero, o País não está se preocupando com questões que podem vir a restringir mercados para o produto brasileiro no futuro próximo. “Hoje é a carne, não faz muito tempo foi a soja, tanto que os produtores tiveram que assumir um compromisso de que não exportariam soja oriunda das zonas desmatadas. Então, passo a passo, nós vamos fechando mercados”, afirmou Ricupero.

Segundo o embaixador, a Amazônia está se transformando em um imenso e improdutivo curral. “No fundo, o que você tem na Amazônia hoje é apenas a extração ilegal de madeira, a queimada para colocar gado, depois de algum tempo aquilo degenera, porque o solo é pobre e essas áreas são abandonadas.” Ricupero criticou duramente o governo Lula. “O governo não é capaz de definir o modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia”, afirmou.

FRIGORÍFICOS

A Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) não se manifestou sobre o embargo da União Européia à lista de 523 fazendas brasileiras, por considerar que a informação ainda não havia sido confirmada pelo Itamaraty.

Grandes frigoríficos, como JBS Friboi, Grupo Bertin e Marfrig estão direcionando a produção que seria exportada para a União Européia para outros destinos e também para o mercado interno. Isso já traz reflexos ao preço da carne nos açougues - em São Paulo, o preço da carne de primeira teve queda de 2,63% na segunda semana de fevereiro, segundo dados da Fundação Procon-SP divulgados ontem.

Para Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), teria sido melhor se o governo brasileiro não tivesse enviado lista nenhuma à UE. “Nós não queríamos que mandassem a lista, fosse de 300, 500 ou 2 mil propriedades, pois a totalidade das fazendas tem condições de exportar”, afirmou. “A realidade é que o embargo europeu não passa de reserva de mercado.”

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