terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Folha - Amazônia Legal terá vigilância permanente

Por FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAILÂNDIA (PA)

ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Polícias Federal e Militar, Força Nacional de Segurança e Ibama põem 800 homens para combater desmatamento na região

Em 36 municípios, Operação Arco Verde deve durar pelo menos um ano, segundo o diretor-geral da PF; clima é de tensão em cidade do Pará

Forças federais iniciaram ontem uma operação de combate ao desmatamento e ao comércio clandestino de madeira na Amazônia Legal. A ação, que se estenderá por tempo indeterminado, atingirá os 36 municípios da região que mais devastaram florestas no segundo semestre do ano passado. Palco de um confronto ocorrido há sete dias envolvendo policiais e moradores contrários à fiscalização das madeireiras, Tailândia (a 218 km de Belém) foi a cidade escolhida para o início da operação, batizada de Arco de Fogo.

O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, disse que policiais vão atuar permanentemente na região. Cerca de 800 homens - da Polícia Militar, da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal- devem se estabelecer na Amazônia Legal por pelo menos um ano. "Já vínhamos fazendo operações de combate naquela região. Estamos trocando o caráter episódico pela permanência porque se mostrou que o perfil do crime é permanente, que se retoma a cada vez que o Estado sai", disse Corrêa ontem pela manhã, em Brasília.

O foco será a fiscalização intensa nas serralherias. Segundo o diretor-geral, a presença do Estado na região terá como efeito também prevenir os crimes decorrentes da exploração ilegal da floresta, a começar da corrupção de servidores.

Em Tailândia, o trabalho envolve 300 homens. Três helicópteros e cerca de 50 veículos serão usados pelas tropas. Pelo menos quatro quintos da madeira encontrada pela PF no entorno de Tailândia ontem são ilegais. Cinco empresas foram multadas em R$ 2,5 milhões pelo Incra.

Em Sinop (MT), um dos principais focos da operação, 50 agentes federais desceram ontem de um helicóptero do Exército e de um avião da PF. Outros quatro carros da polícia já estavam estacionados em um hotel da cidade.

A fiscalização no Pará começa hoje. O Ibama acredita que as cerca de 60 madeireiras de Tailândia possuam em estoque até 50 mil metros cúbicos de madeira ilegal, o suficiente para lotar 3.570 caminhões. A chegada das forças federais agitou a cidade, de 67 mil habitantes. Os moradores saíram de casa para acompanhar a chegada do comboio.

Tensão
Nas madeireiras, o clima é de tensão entre os empresários e os funcionários. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Madeireira de Tailândia, Francisco das Chagas, dos 2.973 empregados do setor com a carteira de trabalho assinada, 2.018 já receberam notificação de demissão.

"Desse jeito, vai ser demitido todo mundo", disse Chagas. Segundo ele, desde o início da fiscalização pelo governo do Estado, há 15 dias, 826 trabalhadores perderam o emprego sem cumprir aviso prévio.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras de Tailândia, João Medeiros, a ação das forças federais deverá agravar ainda mais a situação. Medeiros acredita, porém, que a fiscalização "será uma oportunidade para o setor se moralizar e se legalizar".

A cidade -que, segundo a prefeitura, tem 70% da sua economia lastreada nos ganhos das madeireiras e carvoarias- reclama do "efeito dominó" provocado pela crise no setor. "Antes dessa confusão eu faturava R$ 160 por semana", disse o borracheiro Magno Silva Sales, 30. "Agora, sem os caminhões, só ganhei R$ 40 na semana passada", declarou.

Nas estradas, só circulam as carretas contratadas pelo governo estadual para retirar a madeira apreendida. Ontem, os caminhões transportaram sua carga para um porto fluvial. As toras foram levadas para depósito próximo a Belém, onde serão leiloadas. O dinheiro irá para entidades ambientais.

Colaborou RODRIGO VARGAS , da Agência Folha, em Cuiabá

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