Bettina Barros, de São Paulo
A retomada do beneficiamento de óleo de palma em Tefé, com a chegada da agência de desenvolvimento da Malásia, levanta algumas preocupações entre ambientalistas. Tefé está cravada na floresta amazônica. É comumente lembrada pelo fato de abrigar a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, exemplo de economia sustentável na região.
Oficialmente, o governo do Amazonas afirma que não haverá mais desmatamentos - esses já foram feitos nos anos 80, com a primeira tentativa de estabelecimento do setor, a Empresa Amazonense de Dendê (Emade). "Não ocorrerá desmatamentos porque a área onde a Braspalma e os malaios entrará já está desmatada. Além disso, o governo tem ferramentas de controle e está desenvolvendo o zoneamento da região", diz Eron Bezerra, secretário de Produção Rural do Amazonas.
Por via das dúvidas, o Greenpeace em Manaus diz que Tefé entrará para a lista de prioridades do grupo ambientalista. Outra organização não-governamental, o Repórter Brasil, que tem se dedicado aos biocombustíveis, está a caminho do município para acompanhar as audiências públicas realizadas com a comunidade. Uma delas já ocorreu. Uma segunda reunião está prevista para breve, mas sem data definida.
Além da localização geográfica estratégica do ponto de vista ambiental, o beneficiamento do óleo é enxergado com suspeita devido a participação do governo malaio. Principal produtor do mundo de óleo de palma, a Malásia está longe de ser um modelo. Recentemente, países europeus - os maiores consumidores - aventaram um boicote ao produto do país e da vizinha Indonésia. Acusam ambos de desmatar florestas para plantar a palmácea.
Em 2005, a ONG Amigos da Terra Internacional, presente em 70 países, apresentou um relatório-denúncia: entre 1985 e 2000 as plantações de palmas na Malásia foram responsáveis por 87% dos desmatamentos de florestas nativas remanescentes. No mesmo período, 6 milhões de hectares de floresta tropical foram convertidas em Bornéo e Sumatra.
Com limitações de terras, a Malásia busca estender suas operações para outros continentes. A Felda, a agência estatal de desenvolvimento, já tem negócios no Sri Lanka, Indonésia e, agora, Brasil. Flerta também com a África (Nigéria é produtor). Para os ambientalistas a questão que não cala é: a Malásia "exportará" seu modus operandi para a Amazônia?
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