quinta-feira, 17 de julho de 2008

O Globo - Minc recebe ameaças em debate na Câmara

Deputado do PDT condena ações antidesmatamento e diz que produtor 'não é o ladrão do Rio'

BRASÍLIA. A audiência pública das Comissões de Agricultura e Meio Ambiente da Câmara ontem foi palco de um embate entre o ministro Carlos Minc e a bancada ruralista. Acostumado a ouvir críticas por causa do avanço do desmatamento na Amazônia, Minc foi atacado e recebeu até ameaças por causa das ações do governo que tentam inibir a devastação. Há 49 dias no cargo, ele evitou comprar brigas, dizendo ser um “homem pragmático e do diálogo”.

O ataque mais contundente partiu do deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), que chamou as operações policiais de grotescas e, em tom de ameaça, disse que o governo pode até vender os chamados bois piratas apreendidos em áreas de conservação no Pará, mas não conseguirá retirá-los do local: — O senhor pode até vender os bois, mas não vai conseguir entregá-los. Nosso povo é pacífico, mas, como diz o ditado: não cutuque a onça com vara curta que ela avança e morde a garganta.

O deputado criticou frase em que Minc comparava a aquisição de gado de origem ilegal à compra de um carro roubado: — Não está comprando de um ladrão, mas de um produtor, o que é bem diferente. Não é o ladrão do Rio de Janeiro com que o senhor está acostumado a conviver.

A virulência silenciou o plenário e provocou reações: — Se aqui ele fala assim, imagina no meio do mato — disse um deputado.

Minc respondeu com serenidade que, como parlamentar, está acostumado à retórica mais contundente. Ele admitiu que a comparação com ladrões de carro tinha sido equivocada, mas lembrou que duas decisões judiciais já haviam determinado a desocupação da área onde o gado foi apreendido.

— O exemplo não foi feliz e vossa excelência tem razão em ter-se indignado — disse Minc. — Não acho certo considerar truculenta a aplicação da lei.

À tarde, Minc reuniu-se com o ministro das Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger. Eles deverão visitar cidades da Amazônia para levar benefícios sociais, o chamado “arco verde”, em complementação ao “arco de fogo” das ações da PF.

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