sábado, 12 de julho de 2008

Folha - Amazônia tem 11 áreas críticas de "sumiço" de aves


Por EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mapa da destruição cruza dados de desmate com os da distribuição de pássaros

Oito espécies ficarão sob risco se 35% da floresta cair até 2020, como prevê dado anterior; em Roraima, terra indígena serve de proteção

A diversidade das aves amazônicas sofrerá um irreversível impacto caso as projeções de destruição da floresta -que pode perder 35% de sua área até 2020-forem confirmadas. O mapa da destruição mostra que 59% do território das 11 áreas mais vulneráveis para os pássaros deixarão de ter mata nativa.

"Essas regiões são importantes para diferentes espécies. Muitos bichos têm uma distribuição restrita", disse à Folha o ornitólogo Mario Cohn-Haft, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

O levantamento -feito pelo cientista com o ecólogo Stuart Pimm da Universidade Columbia, de Nova York, e mais dois biólogos- também avalia quais aves especificamente devem receber atenção. Caso a previsão de 35% de desmatamento -feita por William Laurance em 2001- se torne realidade, oito espécies passarão a ser consideradas sob ameaça.

A lista mostra, por exemplo, que a choca-de-garganta-preta e o dançador-de-coroa-dourada, que vivem em terra firme, passariam à categoria de "criticamente ameaçados".

Duas espécies estudadas recentemente em Roraima pela pesquisadora Mariana Vale (Universidade de Duke) -primeira autora do trabalho feito agora, publicado na revista "Conservation Biology"- também entraram na lista de grupos impactados. Tanto o xororó-do-rio-branco quanto o joão-de-barba-grisalha, só estão relativamente protegidos agora porque habitam um "oásis" dentro da terra indígena Raposa/Serra do Sol.

Outras oito espécies terão uma perda de pelo menos 50% de seus habitats, indica o mapa feito a partir dos dados de distribuição das aves e do aumento do desmatamento. "São espécies, também, para ficarmos de olho", diz Cohn-Haft.

De acordo com o pesquisador, no caso da Amazônia, houve até uma visão conservadora na montagem dos mapas. "Nós usamos uma previsão amena de ritmo de desmatamento e também dados que mostram uma distribuição ampla das aves", disse o cientista.

Para o pesquisador do Inpa, muitas mudanças na ecologia das aves ainda vão ocorrer em território amazônico, o que vai piorar o quadro da destruição.

"Os estudos taxonômicos ainda vão mostrar que uma espécie, como é conhecida hoje, na verdade são várias. Nós, que trabalhamos no campo, sabemos muito bem disso", conta Cohn-Haft. Ou seja, o impacto quantitativo sobre as aves, quando essas várias espécies forem realmente separadas pelos cientistas, só vai aumentar.

Várzea mitológica
Um resultado inesperado no mapa de destruição das aves amazônicas é que as várzeas, áreas inundáveis, também estão incluídas entre as áreas mais vulneráveis ao desmate.

"As várzeas, ao contrário do que os pesquisadores imaginavam, não são tão imunes assim ao impacto ambiental". Por serem locais que já passam por alterações naturais grandes -alagam e secam todos os anos, por exemplo-, o senso comum, até hoje, dizia que elas não seriam tão frágeis.

O mapa feito agora mostra também que a vegetação das "savanas das Guianas", que ocupa boa parte do norte de Roraima, encolherá 73%.

Crédito da imagem: Gonçalo Ferraz/Cortesia

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