O TSUNAMI econômico-financeiro que varre o mundo será um dia lembrado pelos gigantescos socorros estatais a empresas privadas. Essas medidas podem se justificar, mas é preocupante observar que talvez se limitem à postura do equilibrista a girar suas varetas para que os pratos não se espatifem no chão. Não é fácil escolher os pratos a serem mantidos no ar. Diante da diversidade de interesses, os objetivos devem ser claros e os critérios, transparentes.
À corrida para salvar os pratos da economia tradicional falta a noção de complexidade da situação, inclusive da ameaça ambiental expressa no aquecimento global. A opção de resolver a crise com mais destruição ambiental, afrouxando leis e controles, é falsa e perigosa. É hora de descarbonizar a economia e exigir contrapartidas, tais como processos produtivos mais ecoeficientes, com fortalecimento da governança ambiental em todos os níveis. A solução para o sufoco deve ser, necessariamente, inovadora e sustentável.
Ao mesmo tempo, segmentos de vanguarda comprometidos com a sustentabilidade, mas ainda de frágil inserção no mercado, estão sendo tragados pela crise sem que lhes seja dada pelo menos pequena parcela do apoio prestado à chamada grande economia. No Brasil, isso acontece, por exemplo, no setor de madeira certificada. A pioneira Associação de Produtores Florestais Certificados na Amazônia, criada em 2003, reúne empresas e comunidades tradicionais que, dentro dos padrões do FSC (Forest Stewardship Council), manejam 90% das florestas naturais certificadas e respondem por 2% da madeira produzida na Amazônia, empregando 15 mil pessoas em toda a cadeia produtiva. A área de floresta certificada cresceu de 300 mil hectares, em 2003, para cerca de 3 milhões em 2007.
Contudo, apesar de sua importância estratégica para o futuro da Amazônia, esse segmento corre sério risco. Com a recente retração de mais de 80% nas exportações, sua consolidação e sua expansão estão ameaçadas, bem como os empregos gerados. Medidas podem e devem ser tomadas para ampliar o mercado interno para seus produtos, usando a capacidade de compra do governo ou aquela gerada por empréstimos de bancos oficiais, como faz a Caixa Econômica Federal. Também seria justo criar linha de crédito do BNDES para garantir capital de giro nas operações de exportação.
O que não dá é para deixar a crise econômica arrastar o futuro. Se emergirmos dela nas mãos do mesmo e velho sistema predatório e autocentrado, não teremos aprendido nada e estaremos, aí sim, no rumo de uma nova crise de dimensões apocalípticas.
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