quarta-feira, 25 de março de 2009

O Brasil Amazônico


Por Dal Marcondes

Nas próximas décadas o mundo precisa encontrar novos caminhos para se desenvolver, alimentar sua população e criar riquezas que permitam continuar seu desenvolvimento humano, científico e tecnológico. E qual será o papel do Brasil neste cenário. 53% do território brasileiro é a Amazônia, com sua grande diversidade de cenários, povos, culturas, fauna e flora. E este cenário precisa ser compreendido pela sociedade brasileira como o grande diferencial que o País tem a oferecer ao mundo.

O Brasil sem a Amazônia é igual a muitos países do mundo. Tem grandes cidades e precisa encontrar diferenciais a partir de modelos baseados em uma mesmice global. O que o Brasil tem a oferecer para o mundo nas próximas décadas e séculos é justamente aquilo que hoje é visto por alguns como “despesa” e “obstáculo” para o desenvolvimento. A Amazônia é o grande diferencial do Brasil dentro do cenário de futuro comum do planeta Terra.

Uma civilização baseada em baixas emissões de carbono passa, necessariamente, pela compreensão do papel da maior floresta tropical do mundo não apenas em termos de “serviços ambientais”, mas também em conhecimento entranhado em sua imensa biodiversidade.

Uma das arrogâncias recorrentes da humanidade é achar que já detém conhecimento suficiente para fazer qualquer coisa. Isto pode ser visto nos livros de história em diversos momentos. Durante a II Guerra Mundial esta arrogância chegou ao extremo e muitos governantes acreditavam ter um “domínio superior” das ciências e das tecnologias. Foi o auge da mecânica como conhecimento. Poucos anos depois a eletrônica ocupou este espaço, com início dos processos de miniaturização que hoje faz uma TV caber em um telefone celular. A junção da mecânica com a química e a eletrônica levou a primeira geração de astronautas ao espaço. Mas não foi, ainda, o auge da civilização.

Acreditar que já se chegou ao limite é não apenas arrogante, mas estúpido. Nos anos setenta muitos futurólogos previam um mundo bem diferente do de hoje, com grandes corporações controlando tudo através de supercomputadores. O conhecimento seria uma mercadoria de muito valor, controlado por poucos. Onde erraram? Uma vez conversei com Alvin Toffler, especialista em análise de tendências e autor de O Choque do Futuro, de 1970, e A Terceira Onda, continuação escrita dez anos depois, e minha pergunta principal foi: Onde erraram? “Não previram o computador pessoal transformado em eletrodoméstico em todas as casas, e principalmente a internet mudou tudo”. O conhecimento deixou de estar nas mãos de poucos e passou a estar disponível em uma escala impossível de ser prevista nos anos 70 do século passado.

Pois é, alguns cenários são praticamente imprevisíveis. Alguns podem dizer que a internet já existia nos anos 70, o que é verdade. Mas ela existia dentro do modelo que Toffler e outros “futurólogos” trabalhavam, ou seja, dentro de cenários controlados, como o acadêmico, o militar ou o corporativo. Não estava ao alcance de um toque no teclado de um computador pessoal. Este é um bom exemplo de porque é perigoso achar que já se sabe tudo. Desde a antiguidade chegam os ensinamentos de Sócrates, de que a sabedoria ultrapassa limites e não há como percebê-la na sua totalidade. “O verdadeiro sábio é aquele que se coloca na posição de eterno aprendiz”.

Em relação à Amazônia esta é uma verdade absoluta. Não sabemos quase nada sobre ela e é preciso compreender seu potencial de descobertas. O olhar sobre a região deve incluir uma imensa curiosidade no mais amplo sentido humanista. Nos próximos anos é preciso investir em ciência na Amazônia, fomentar pesquisas e estimular doutores a ampliar o conhecimento e o saber sobre a região e seus múltiplos biomas.

Os olhares do mundo estão sobre a Amazônia e a sociedade brasileira deve conseguir mostrar sabedoria e capacidade de governança sobre a região. O Brasil sem a Amazônia não representa nenhuma vantagem para o mundo ou para os brasileiros. No entanto, o Brasil Amazônico pode ser o fator decisivo para fazer brotar o germe de uma economia baseada no conhecimento, no uso eficiente de recursos naturais e energia e na capacidade de gestão da biodiversidade. Talvez o próximo estágio do conhecimento, uma biocivilização.

* Dal Marcondes é jornalista, diretor de redação da Envolverde, recebeu por duas vezes o Prêmio Ethos de Jornalismo e é Jornalista Amigo da Infância pela Agência ANDI.


(Agência Envolverde)

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