Por DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Criador de site que reúne propostas para uma civilização "mais inteligente" diz que o ativismo ambiental mudou e defende as grandes ações de impacto imediato para salvar o planeta
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NA MAIORIA DOS LUGARES E DAS VEZES, AS PESSOAS QUEREM OPÇÕES PARA VIVER DE FORMA MAIS MODERNA E PRÓSPERA. PARTE DA QUESTÃO HOJE É SER REALISTA SOBRE O QUE PODE SER ABANDONADO
Chega de falar de problemas e não apontar soluções. Munido com essa convicção, o jornalista norte-americano Alex Steffen, 40, abandonou os trabalhos que realizava junto a organizações de preservação ambiental e decidiu construir uma frente de batalha própria: o site Worldchanging (http://www.worldchanging.com).
Desde 2003, o site -que conta com cerca de 50 colaboradores em todo o mundo- noticia iniciativas em prol de uma civilização "mais inteligente, mais eficiente e que trabalhe de forma mais harmônica com a natureza", segundo define seu criador. O caldeirão de idéias, pesquisas e propostas em temas tão diversos como design e empreendedorismo social também desembocou em um livro, "Worldchanging: A User's Guide for the 21st Century" (Worldchanging: guia do usuário para o século 21 -ed. HNA Books; US$ 21,83; 608 págs.). Incensado por publicações como a "New York Review of Books", foi classificado como imprescindível para os "heróis cotidianos" de que o mundo precisa, nas palavras de Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, autor do prefácio.
Para o jornalista, o movimento ecológico vem se transformando porque seus porta-vozes compreenderam que todos desejam conforto e prosperidade. E, para os tempos que correm, defende outra mudança no discurso verde: o estímulo a ações de impacto imediato e amplo. "Pequenos passos não são suficientes. Prefiro ver alguém pensando em uma grande mudança, em como modificar a companhia em que trabalha, por exemplo." Leia a seguir trechos da entrevista que Steffen concedeu à Folha, de seu escritório em Seattle.
FOLHA - Por que o ativismo do passado não funcionou, como você diz?
ALEX STEFFEN - Tratava-se, majoritariamente, de um movimento de crítica. Acho que a grande mudança dos últimos dez anos é que muitos ambientalistas se tornaram conscientes de que, sim, é necessário protestar contra a destruição da natureza, mas muito mais importante agora é tentar imaginar que tipo de sistema pode substituir aquele que temos hoje, de forma que haja prosperidade para mais pessoas. Ser ecológico tinha muito a ver com voltar ao passado, viver de modo simples, e as pessoas não têm grande interesse nisso. Na maioria dos lugares e das vezes, as pessoas querem opções para viver de forma mais moderna e próspera. Parte da questão hoje é ser realista sobre o que pode ser abandonado. Como, sabendo que as pessoas querem determinadas coisas, podemos redesenhar nossa civilização material para fazê-la mais inteligente, mais eficiente e trabalhar de forma mais harmônica com a natureza.
FOLHA - Quais são os principais desafios dessa tarefa?
STEFFEN - Há uma tendência hoje em falar de pequenos passos, do que você pode fazer para viver de forma mais ecológica, e que são coisas boas e que devemos fazer. Mas não são suficientes. Prefiro ver alguém pensando em algo grande, em como modificar a companhia em que trabalha ou o sistema educacional de onde vive. Os maiores desafios têm a ver com mudar o pensamento. Todos crescemos em sociedades em que se agia como se tudo fosse ilimitado. Se todos queremos ser ricos, temos que pensar de forma diferente. Nos Estados Unidos, por exemplo, tivemos problemas de energia. O que precisávamos fazer seria uma grande transição na maneira como criamos energia e em quão eficientemente a usamos, mas, em vez disso, o debate político por aqui são os motivos de não podermos explorar mais petróleo. A transição de que precisamos não vai se dar com pequenas reformas. Necessita da disseminação de uma onda global de inovação. O desafio é que nunca fizemos isso antes.
FOLHA - Qual será o melhor presidente para os EUA em termos de políticas ambientais?
STEFFEN - Worldchanging é apartidário, então talvez seja melhor dizer o que creio que precisa acontecer. Quem quer que ganhe em novembro, os EUA precisam mudar completamente sua abordagem em relação ao ambiente. Somos os piores poluidores do planeta. Somos o lar da maioria dos cientistas e de muitas das universidades "top" do mundo, e muitos pesquisadores estão mergulhando nessa questão. O planeta como um todo tem a oportunidade de mudar. É necessário que o mundo inteiro se comprometa com esse tema, mas especialmente os EUA, para liderar o caminho. É nossa obrigação nos tornarmos sustentáveis primeiro. Será em benefício de nós mesmos se o fizermos. E se os EUA e a Europa liderarem o caminho rumo à sustentabilidade, o mundo os seguirá e terá muito mais ferramentas para trabalhar.
FOLHA - Qual a sua opinião a respeito do debate sobre desenvolvimento e preservação na Amazônia?
STEFFEN - A Amazônia é um dos grandes patrimônios da humanidade, e os brasileiros têm que cuidar dessa área de forma responsável. Sabemos que uma das maiores causas para a mudança climática é o desmatamento. A resposta não é desenvolver a Amazônia ou ser pobre, essa não é a escolha. Há alternativas para preservar a Amazônia e criar riqueza. É o caso em que, novamente, é necessária a colaboração internacional. Se os brasileiros desejam se comprometer com a preservação da Amazônia e iniciar um novo modelo de desenvolvimento, que a comunidade internacional leve isso em conta em negociações, em programas de desenvolvimento, em mecanismos de transferência de tecnologia etc. A Amazônia é muito importante para todo o planeta, e há melhores soluções do que a lotear. O tipo de desenvolvimento que o Brasil vai ter será muito melhor se o país buscar um caminho sustentável agora do que se tentar seguir um modelo baseado na disponibilidade de recursos por mais algumas décadas.
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