segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Envolverde - No começo, a mudança é apenas um desvio
Por Naná Prado*
“Na busca pela sustentabilidade, temos um desafio ético e não técnico”, afirmou a senadora Marina Silva em palestra magna no Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade.
Mulher, professora, política e latina-americana. Quatro características que fazem de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e atual senadora do Acre, uma falante nata. E ela discursou durante mais de uma hora sobre Sustentabilidade: um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI, na manhã de quinta-feira (16), no Encontro Latino-Americano de Comunicação e Sustentabilidade, realizado pelo Instituto Evolverde.
O discurso da senadora, focado em sua vivência experimental de política e cidadã comprometida, traçou um importante elo entre as mudanças em curso e os desvios no caminhar. Da sustentabilidade política à sustentabilidade ambiental, econômica, social e até estética, Marina Silva acredita que precisamos de equivalência ética para colocar todos os nossos conhecimentos técnicos e científicos em prática.
“A sustentabilidade ética é a que move todas as demais. Ainda não temos equivalência ética para colocar todos os conhecimentos tecnológicos em prática de forma igualitária, para todos”, afirma. Apesar do arsenal técnico, que garante informação em tempo real, temos ainda muita gente que nem ao menos sabe escrever. “Tanta tecnologia ainda não foi utilizada para oferecer serviços básicos a milhões de pessoas”. E Marina Silva foi além, afirmando que não se trata de um problema técnico, mas sim ético.
Como chegar a esse modelo sem ficar na abstração?
Marina Silva utilizou da evolução da humanidade para mostrar que é possível conquistar essa sustentabilidade ética, base para todas as demais. Do desenvolvimento das habilidades do homem, colocado pela senadora como a era dos ‘homo habilis’ (homem habilidoso), passando pela era do ‘homo bellicus’ e agora na ‘homo economicus’, Marina acredita que é possível chegar ao ‘homo sustentabilis’.
“Basta termos clareza de que as mudanças não acontecerão pela onipotência dos nossos pensamentos. É fundamental criar meios para alcançar essa mudança”, afirmou. Visão, processo e estrutura fazem parte de ações mobilizadoras.
Até o momento, segundo Marina Silva, pensávamos na utilização de recursos como se eles fossem infinitos e como se o planeta possuísse uma forma ilimitada. “A mudança é de base civilizatória. Chegamos na era do limite e temos que lidar com isso da maneira mais criativa e inspiradora”.
De um curso feito na França, com o sociólogo Edgard Morin, Marina Silva aliou ao seu discurso o conceito de que a mudança é, no começo, apenas um desvio e acrescentou: “existem desvios que queremos e que fazem parte da trajetória e outros não queremos ver em curso”.
Para os profissionais de comunicação, presentes ao evento, Marina Silva sugeriu: novas pautas, focadas na sustentabilidade, dependem de olhares acurados, atento aos desvios que queremos. Fazendo uma brincadeira com um jogo de futebol, Marina afirmou que o olhar deve estar focado para onde a bola vai estar e não no local onde ela está.
Para Adalberto Marcondes, presidente do Instituto Envolverde, “o objetivo deste evento é levar pautas para toda a mídia e para a sociedade, mostrando que existem alternativas à degradação social, ambiental e agora também econômica que estamos vivendo”. Segundo ele, os jornalistas de mídias e assessorias têm a responsabilidade de transmitir essas informações. “É nossa responsabilidade compreender como a sustentabilidade pode se transformar em ferramenta capaz de fazer a mudança”, explicou.
Lideranças multicêntricas
Como citado em outros discursos, a senadora voltou a falar da importância de lideranças multicêntricas como uma forma de todos arcarmos com as nossas responsabilidades. “O desafio deste século é desfragmentar as instâncias políticas. Quem disse que o ministro de energia não pode cuidar do meio ambiente e vice versa?, questionou Marina Silva.
“Mais do que mudar o modelo de desenvolvimento, precisamos mudar a forma como vemos as coisas. É uma questão de significado e significante e uma busca eterna por sentido”.
Os países ricos estão sendo interpelados pelo que eles fizeram no passado e os países pobres estão sendo interpelados pelo que eles estão fazendo e pelo que ainda vão fazer. “No Brasil, estamos sendo interpelados pelo passado e pelo futuro. Veja o caso da Mata Atlântica que depois de décadas de destruição resta apenas 7% de sua mata original. Aprendemos com nossos erros e agora está mais do que na hora de não cometer os mesmos na Amazônia”, afirmou.
O processo de mudança depende do comprometimento de todos. “É como uma corrida 4x4: cada um leva o bastão até onde consegue. Não acredito que existem saídas mágicas, mas sim sujeitos protagonistas de sua história que fazem a diferença”, finalizou a senadora Marina Silva.
* A cobertura do Encontro Latino Americano de Comunicação e Sustentabilidade está sendo feita por uma equipe de jornalistas. A coordenação é de Naná Prado e o material será publicado no site da Envolverde (http://www.envolverde.com.br) e do Mercado Ético (http://www.mercadoetico.com.br).
Crédito de imagem: Clóvis Fabiano
(Agência Envolverde)
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