quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Folha - Brasil poderá ter meta no clima, afirma Carlos Minc

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

Segundo ministro, compromisso obrigatório seria equivalente um terço daquilo que países ricos adotarem na 2ª fase do pacto de Kyoto

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem que o ministério discute com o Itamaraty a adoção de metas para cortes de gases-estufa para o período pós-Kyoto e afirmou que a área econômica do governo é favorável à medida.

Segundo ele, a meta poderia equivaler a um terço do que for adotado pelos países ricos a partir de 2013. "Hoje, dentro do Ministério da Fazenda, a posição é a favor das metas por causa dos benefícios que a gente vai ter assumindo metas. A gente vai poder entrar numa partilha de bens para cumprir essas metas muito mais fortemente."
Ele se antecipa às críticas que sua afirmação possa sofrer: "Uma coisa é o maluco do Minc dizer que vai cumprir metas (...). Outra coisa é o Ministério da Fazenda. Significa que alguma coisa existe. Há vantagens".

Nas negociações, até agora, o Itamaraty sempre rejeitou a adoção de metas obrigatórias.

O ministro falou pela primeira vez sobre a mudança de posicionamento do governo em reportagem do jornal "Valor Econômico" de quinta-feira. "Se for 36% de corte para os países ricos até 2025, seria 12% para o Brasil, por exemplo", declarou Minc à Folha ontem.

Além de metas bem diferentes em relação às das nações desenvolvidas, outras condições do Brasil seriam a transferência de recursos e de tecnologia por parte dos países ricos.

Para atingir a meta, Minc diz que o principal alvo será o desmatamento da Amazônia, que hoje representa cerca de 70% das emissões do Brasil.
No entanto, o Plano Nacional de Mudança Climática, elaborado pela equipe dele, não prevê nenhuma meta de redução de desmate.

Minc afirmou que até o fim do ano pelo menos duas empresas anunciarão doações para o Fundo Amazônia, e que Petrobras, Wal-Mart e AES já tiveram reuniões com o ministério e estão interessadas em investir. O fundo prevê que países e empresas doem dinheiro para o Brasil e que esse dinheiro possa ser usado sempre que o país conseguir reduzir o desmatamento abaixo de um certo patamar, mitigando suas emissões. Foi criado ontem no Rio o comitê orientador do fundo.

Segundo Minc, o governo vai organizar um "road show" com apoio do BNDES para atrair a atenção do setor privado para o fundo. O primeiro passo será a apresentação de informações sobre ele na conferência do clima na Polônia, em dezembro.

A estratégia do governo é aproveitar a discussão com os países desenvolvidos e a perspectiva de que a maioria não será capaz de cumprir as regras de redução das emissões para aumentar as captações.

Os recursos poderão ser usados para gestão de florestas, monitoramento e fiscalização. O único país que anunciou apoio ao fundo até agora foi a Noruega, com US$ 140 milhões no primeiro ano.

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