terça-feira, 30 de setembro de 2008

OESP - Desmatamento cresce 64% em 1 ano

Por Herton Escobar

Dados do Deter apontam devastação acumulada de 8,1 mil km2; em relação a junho deste ano houve queda

O desmatamento na Amazônia calculado via satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o mês de julho foi de 323 quilômetros quadrados, uma área quase do tamanho de Ilhabela, no litoral paulista. O número, divulgado ontem, representa uma queda brusca em relação a junho (63%), maio (70,5%) e abril (71%) - justamente na época em que a pressão sobre a floresta costuma ser mais forte, por causa da seca. Essa é a boa notícia.
A má notícia é que, ainda assim, o desmatamento acumulado nos últimos 12 meses (8.147 km2) foi 64% maior do que no ano passado, quando o Inpe registrou 4.974 km2 de floresta perdida. A taxa anual de desmate na Amazônia é calculada de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do ano seguinte.

"O peso da má notícia é muito maior do que o da boa. Isso é o que mais preocupa", avaliou Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.

Os números, por enquanto, são do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), de menor resolução, que só identifica áreas maiores que 25 hectares. A taxa anual "verdadeira" será calculada nos próximos meses com base em imagens do sistema Prodes, de alta resolução, que detecta clareiras de até 6 hectares.

Não há dúvida de que o desmatamento este ano será maior do que em 2007, quebrando uma seqüência de três anos de queda. Resta saber quanto. O total do Prodes é sempre maior do que o do Deter, porque o sistema "enxerga" muitos desmates pequenos que não são vistos nas imagens de menor resolução.

A diferença entre as taxas do Deter e do Prodes foi de 29% em 2006 e 132%, em 2007. "A variação anual significativa entre pequenos e grandes desmatamentos indica que não se pode estimar o Prodes com base no Deter", disse Câmara ao Estado. Ele acha improvável, porém, que o aumento oficial seja tão grande (64%). Nesse caso, a taxa anual do Prodes saltaria de 11.532 km2 para 18.900 km2 - acima da taxa de 2005, quando os índices começaram a cair.

Outra diferença é que o Prodes calcula apenas áreas de corte raso, onde a floresta foi completamente derrubada, enquanto o Deter registra áreas de corte raso e floresta degradada. Segundo o Inpe, 79,5% dos 323 km2 de desmatamento detectados em julho foram corte raso.

A maior parte dos desmatamentos - até 90%, segundo estimativas - é ilegal. Em julho, o Estado com mais área desmatada foi o Pará, com 235 km2 de floresta derrubada ou degradada. No acumulado de 12 meses, porém, a "medalha de ouro" ficou com Mato Grosso, responsável por 55,7% da área total desmatada na Amazônia. O Pará aparece em um distante segundo lugar (20,7%), seguido de Rondônia (8,7%) e Roraima (6,5%).

AVALIAÇÃO


Foi um ano difícil para o Inpe, que foi chamado de "mentiroso" pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), e precisou aprimorar seus métodos de pesquisa para defender a credibilidade do Deter. Com isso, desde maio, os boletins mensais passaram a fazer a diferenciação estatística entre corte raso e floresta degradada, o que não era feito antes.

O secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luiz Henrique Daldegan, disse que já pediu várias vezes ao Inpe a localização das áreas que são de corte raso versus degradação, mas nunca recebeu as informações. "Eles dão os números, mas não identificam as áreas, assim não podemos fazer a verificação de campo", criticou. "Se a política é de transparência, por que não fazem isso?"

Os dados finais são favoráveis ao Pará, que foi o campeão de desmatamento no Prodes de 2006 e 2007, mas está em segundo lugar no Deter de 2008. O secretário de Meio Ambiente do Estado, Valmir Ortega, atribui a queda a uma combinação de pressões "de governo, de mercado e da sociedade". Ele citou a operação Arco de Fogo, em que o Estado colaborou com o governo federal para coibir o desmatamento. "Demos uma sinalização forte de que não haveria tolerância por parte das autoridades locais."

Vários especialistas atribuem o aumento do desmate nos últimos 12 meses ao reaquecimento dos mercados internacionais de soja e carne, que estavam em baixa nos três anos em que o desmatamento caiu.

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