terça-feira, 2 de setembro de 2008
Envolverde - MT debate como levar floresta ao mercado
Por Osmar Soares de Campos, do Pnud
Um programa que tenta unir geração de renda e preservação ambiental no noroeste de Mato Grosso conseguiu impulsionar a produção de látex, castanha e bijuteria artesanal sem derrubar uma única árvore na Floresta Amazônica e no Cerrado, mas os pequenos produtores — famílias de agricultores e, em grande parte, índios — ainda encontram dificuldades para entrar com mais intensidade no mercado.
"Imagine para um povo ameríndio, que tem outra visão de mundo, ter que lidar com as questões do mercado: taxas de juros, empréstimos, competitividade de preços, prazos, padrões de qualidade de produtos…", afirma o biólogo Placido Costa, coordenador de Gestão Ambiental em Terras Indígenas do programa Promoção de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso, chamado de GEF-Nororeste, apoiado pelo PNUD.
A iniciativa, que em cinco anos investiu US$ 4 milhões em mais de 13 ações de uso sustentável da floresta no noroeste mato-grossense, começou nesta segunda-feira (1º) um encontro para fazer uma espécie de balanço das atividades. A "Oficina de avaliação e planejamento participativos sobre manejo e comercialização de produtos da floresta" será realizada até sábado (6) nos municípios de Juína e Juruena.
O encontro tem três metas principais: identificar os pontos positivos e os gargalos das experiências em desenvolvimento na região; montar uma estratégia para articular melhor essas várias experiências e debater como manter as ações de gestão, manejo e venda dos produtos da floresta.
Um dos pontos a ser discutido é o acesso maior ao mercado. Em alguns casos, o problema é contornado por meio de parcerias com empresas ou órgãos públicos. Alguns produtos, como a castanha-do-brasil (ou castanha-do-pará), conseguem chegar às grandes metrópoles brasileiras. “A total autonomia para o processo de gestão de mercado e a oferta de uma leitura mais detalhada e clara das nuances de mercado é um grande desafio do projeto que será discutida na oficina", adianta Costa. "Mesmo nossa sociedade tem problemas com questões extremamente simples, como as relações no condomínio ou limite de cheque. Para eles, é um desafio muito grande lidar com as ferramentas para entrar no mercado, muitas vezes selvagem."
O programa lançou mão de itens da própria região para aumentar a geração de renda. Aumentou a coleta de castanha-do-brasil, retomou a extração de látex, que estava interrompida, e a produção de bijuterias com espécies típicas do Cerrado. Alguns projetos têm recebido apoio de grandes instituições públicas e privadas, como o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), os ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, a Petrobras e a fabricante de pneus Michelin do Brasil. Nesses casos, as parcerias permitiram que a atividade dessas comunidades fosse produzida em escalas competitivas e com a qualidade exigida pelo mercado. Além disso, essa relação com setores organizados fez com que barreiras que existiam na região, como a ação dos atravessadores — grupos que lucravam comprando produtos por preços muito baixos — fossem vencidas.
Além da identificação dos gargalos, durante a oficina desta semana haverá exposição de projetos, identificação de oportunidades para o manejo e a venda de produtos florestais não-madeireiros e a apresentação de propostas para uma estratégia de trabalho que envolva todos os projetos.
Outra questão que vai ser debatida é o intercâmbio de experiências e trabalhos de campo de projetos distintos, mas muito próximos: o mesmo sujeito que coleta castanha nos primeiros meses do ano pode ser aquele que retira o látex de seringueiras durante o inverno, por exemplo. "Nossa intenção é que eles possam ter uma estratégia que considere o sinergismo de suas ações. É por isso que convidamos várias instituições para participar do encontro", acrescenta Costa.
O GEF-Nororeste tem co-gestão entre SEMA (Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso) e PNUD, que administra verba do GEF (Fundo Global para o Meio Ambiente). O programa deve ser concluído em março de 2009.
Participantes da oficina:
Associação dos Agricultores do Vale do Amanhecer
Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã
Associação dos Seringueiros dos Rios Guariba e Roosevelt
Associação Indígena do Povo Rikbaktsa
Associação Indígena do Povo Arara – Yucapkatã
Associação Indígena do Povo Zoró
Instituto Chico Mendes
Fundação Nacional do Índio
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Projeto União dos povos da Floresta para a proteção dos Rios Juruena e Aripuanã
CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento)
Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Cooperativa Mista dos Agricultores do Rio Guariba
INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
Universidade Federal de Mato Grosso
Agentes multiplicadores locais (Rikbaktsa, Agricultores, seringueiros)
(Envolverde/Pnud)
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