Por MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Expansão do cultivo pode ser freada em uma área de 4,6 milhões de km2 segundo proposta de zoneamento
A expansão do cultivo da cana-de-açúcar poderá ser freada numa área de 4,6 milhões de quilômetros quadrados -quase metade do território nacional-, segundo a proposta de zoneamento que será levada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias, sob oposição do agronegócio.
As oito usinas já instaladas e mais um projeto consolidado na Amazônia e na bacia do Alto Paraguai, região no entorno do Pantanal, terão a produção de álcool combustível assegurada, no limite das licenças ambientais já concedidas, segundo acordo preliminar entre os ministros Reinhold Stephanes (Agricultura) e Carlos Minc (Meio Ambiente).
O zoneamento da cana procura dar respaldo ao discurso de Lula, segundo o qual o projeto de transformar o Brasil em potência do álcool não se dará à custa de mais desmatamento da Amazônia nem do aumento do preço dos alimentos - duas preocupações que ganharam escala mundial.
Na próxima década, a área plantada deverá crescer cerca de 7 milhões de hectares ou pouco mais do que os Estados do Sergipe e do Espírito Santo juntos, segundo projeção do governo e de produtores.
Para atender ao consumo interno e às exportações, a produção de álcool deverá passar dos atuais 22,4 bilhões de litros para 65,3 bilhões, em 2020.
Alimentos
Na última reunião de ministros sobre o tema, Stephanes expôs que havia 60 milhões de hectares no país mais ou menos aptos à expansão do cultivo da cana, ocupados atualmente por pastos e cultivo de alimentos. Dilma Rousseff (Casa Civil) se exaltou ao perceber que o zoneamento não assegurava que a expansão da cana evitaria áreas ocupadas atualmente pelo cultivo de alimentos.
"A competição sempre existiu; quando o álcool tem preço, ele ganha, quem decide entre produzir alimento ou energia é o produtor", afirmou Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, entidade que representa produtores de açúcar e de álcool.
Stephanes acredita que o acesso ao crédito vai estimular a expansão da cana-de-açúcar apenas sobre áreas de pastagens já degradadas.
Enquanto o governo discute internamente o zoneamento da cana-de-açúcar, previsto inicialmente para o final de julho, os produtores cuidam de expandir o cultivo. O último levantamento da safra de 2008 divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima em 27% o crescimento da área plantada em relação à safra de 2007.
O crescimento maior é estimado para Minas Gerais e Goiás, 50,6% e 48%, respectivamente. Em pleno bioma amazônico, a área plantada em Roraima cresceu em um ano quase 20%, a ponto de se destacar nas estatísticas oficiais.
A expectativa do grupo instalado no município de Bonfim é começar a produzir álcool no ano que vem e chegar a 530 mil litros do combustível em 2014.
Pantanal
No entorno do Pantanal- onde já há quatro usinas instaladas-, é forte a pressão por novas áreas para a cana.
"Não faz sentido a proibição: se as quatro usinas já existentes não agridem o meio ambiente, por que não mais uma, duas ou três usinas?", questiona o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, Rui Prado.
Com projetos para duas novas usinas em análise nos órgãos ambientais do Estado, o produtor Normando Corral diz que as proibições não atendem a um critério técnico. "O critério é paranóico ambiental; o governo vai condenar a região ao fracasso econômico."
Na quinta-feira, o governador Blairo Maggi (MT) abordou Carlos Minc em reunião no Planalto.
Pediu o apoio do ministro para mudar uma resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que, desde 1985, mandou suspender licenças para novas destilarias de álcool na região.
"Não", respondeu Minc a Maggi. "Há uma questão jurídica intransponível", argumentou o ministro. A palavra final caberá ao presidente Lula.
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