Envolverde - Amazônia promove 3ª Mostra do Filme Etnográfico

Por Elisabeth Cavalcante*

O filme Yawa, a história do povo Yawanawa, é um bom exemplo de produção regional de qualidade. A iniciativa começou com um curso de técnicas de audiovisual na aldeia no Acre. A partir daí, os índios resolveram produzir um filme contando a história deles. Decidiram teatralizar seus mitos, danças e cerimônias sagradas, e fizeram isso, de A a Z, durante uma semana. O filme tem 50 minutos de duração e já foi lançado em oito idiomas.

MANAUS, AM — Os apreciadores do bom filme construído a partir de um olhar compreensivo entre as diferenças culturais já podem se preparar para as novidades da 3ª Mostra do Filme Etnográfico – uma iniciativa do Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Amazonas (Navi/Ufam), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Amazonas (Fapeam).

A Mostra Competitiva está com inscrições abertas até 15 de setembro e será realizada no período de 14 a 19 de outubro, no Salão Gebes Medeiros do Ideal Clube, no Centro da Cidade, com cursos a serem ministrados no Palácio da Justiça, sempre pela parte da tarde.

Os filmes estão sendo recebidos em DVD e concorrem a uma premiação simbólica – uma estatueta muiraquitã – nas categorias curta, média e longa metragem. E passam pela avaliação de um rigoroso júri formado por cineastas de outros estados ou países da Amazônia e também de cineastas locais.

Neste ano, estão confirmados no júri o cineasta carioca Hermano Penna, do premiado “Fronteira das Almas” (filmado em Rondônia em 1987), inspirado no romance de João Ubaldo Ribeiro; Jorane Castro, de Belém, cuja última produção foi “Mulheres de Mamirauá” (2008); o cineasta amazonense reconhecido internacionalmente Óscar Ramos, que participou das produções de Anaconda (Columbia Pictures) e Tainá (Pedro Rovai); Andréa Borghi, antropóloga da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e, ainda a ser confirmado, um cineasta venezuelano que deverá ser trazido a partir de uma parceria com o Consulado da Venezuela.

A Mostra também vai homenagear o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, com mesa-redonda, debates e exibição de filmes. O secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Sílvio Da-Rin, é aguardado para a abertura do evento.

A equipe que coordena a III Mostra do Filme Etnográfico, presidida pela coordenadora do Navi, a professora doutora Selda Vale, decidiu concentrar as reflexões da terceira versão da mostra no projeto DOCTV (TV Cultura), programa do Ministério da Cultura, que surgiu com o objetivo de estimular a produção audiovisual local e fomentou a criação de filmes locais na Amazônia. “Vamos abrir espaço para refletir sobre dois aspectos do DOCTV; um é o ponto de vista técnico-instrumental relativo aos recursos destinados ao programa e demais detalhes burocráticos; outro, é no sentido de tentar responder de que maneira nós estamos nos vendo em termos de imagem produzida por nós mesmos”, comenta Selda Vale.

Um pouco de história

A Mostra do Filme Etnográfico foi concebida em 2005, logo após a criação do Navi, na UFAM. “O próprio Núcleo foi fruto de um trabalho de recuperação de um acervo de imagens (à época em VHS), que pertencia à Universidade, mas andava relegado”, conta Selda Vale, e destaca, “só de documentários eram quase 150, e havia muitas, muitas imagens da Amazônia”.

Depois de transcrito para DVD, o acervo gerou um debate sobre o tipo de imagem que tem sido criada da Amazônia. “Como ela está sendo vista? E ainda, como os habitantes dessa região expressam a visão que têm de si mesmos?”, recorda Vale.

Para criar o evento, a equipe do Navi se inspirou na renomada Mostra Internacional do Filme Etnográfico, realizada desde 1993, no Rio de Janeiro, e que, neste ano, chega a sua 13ª versão, no período de 12 a 19 de novembro. “Tínhamos em mente algo parecido com o que é feito lá e tentamos realizar uma Mostra Pan-Amazônica”, recorda a coordenadora.

Em sua primeira edição, em 2006, a Mostra do Filme Etnográfico contou com participações da Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e uma parceria italiana. Na segunda versão, Colômbia, Peru e uma co-produção com a Holanda. Este ano, a organização quer resgatar a presença venezuelana. Do Brasil participam cineastas de todas as regiões.

Critérios para inscrição de filmes

Segundo Selda Vale, o conceito de filme etnográfico será sempre objeto de longos estudos e debates, mas de uma forma geral, os interessados em se inscrever devem ter em mente que estão descartados os filmes institucionais ou quaisquer outros de caráter político, e também aqueles puramente naturais, ou seja, os filmes que trazem temas turísticos ou do chamado “mundo animal”.

“O filme etnográfico possui algumas características”, explica Vale. E destaca o fato de que, ao mesmo tempo em que é resultado de uma pesquisa, também tem que ter roteiro, criação artística, elaboração técnica. “Pode ser até um filme de ficção, mas que tenha a perspectiva de tentar compreender a cultura do outro, pois o bom filme etnográfico é aquele que revela o diálogo entre visões distintas”, elucida.

Como exemplo, Selda lembra o destacado DVD “Yawa – a história do povo Yawanawa”, de Joaquim Yawanawa. “Tudo começou com a iniciativa de dar o conhecimento de técnicas de audiovisual nesta aldeia no estado do Acre, e a partir daí, eles faziam o que quisessem; então, aquele povo resolveu teatralizar seus mitos, danças e cerimônias sagradas, e fizeram isso, de A a Z, durante uma semana”. “Yawa – a história do povo Yawanawa” tem 50 minutos de duração e já foi lançado em oito idiomas.

O regulamento da III Mostra do Filme Etnográfico e a ficha de inscrição para o evento estão disponíveis no site http://www.mostraetonografica.ufam.edu.br.

* É repórter da Agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)

Crédito de imagem: Odair Leal

(Envolverde/Agência Amazônia)