segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Envolverde - Inpa desenvolve chapa de folhas vegetais da Amazônia para uso na construção civil


Por Rosilene Corrêa, do INPA

MANAUS, AM — A necessidade de preservação das florestas e o uso correto dos recursos por ela oferecidos estão sempre no centro das discussões quando a Amazônia é o assunto. No estado do Amazonas, a exploração dos recursos florestais oferece uma gama de produtos que vão além dos cosméticos e dos medicamentos.

Agora, a novidade fica por conta do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Seus pesquisadores desenvolveram uma “chapa” de folhas vegetais. Ela pode ser utilizada na confecção de forros, divisórias, móveis e artefatos em substituição a madeira sólida e seus derivados (aglomerado, compensado e MDF). A folha é capaz de substituir também outros materiais, entre os quais, o PVC, o gesso e o isopor, usados largamente na indústria da construção civil.

Um dos inventores da folha é Jadir de Souza Rocha. Segundo ele, a riqueza da floresta amazônica não está somente na madeira das espécies arbóreas. Rocha lembra que outras matérias-primas florestais não madeireiras podem ser transformadas em produtos de excelentes qualidades e alternativas à madeira.

“Isso pode contribuir substancialmente para diminuir a pressão sobre as espécies economicamente desejáveis, cujos estoques são reduzidos drasticamente pela ação da atividade madeireira na Região”, explica Jadir Rocha. E acrescenta: “além de mencionar que essa situação é preocupante, pois ainda não existem resultados que comprovem a eficácia do manejo florestal com as espécies arbóreas da Amazônia”.

Jadir Rocha é pesquisador da área de recursos florestais no Inpa. Por essa razão, ele conta que ficava muito incomodado ao ver uma das matérias-primas mais abundantes da natureza ser desperdiçada naturalmente e pela ação do homem. A destruição da madeira acontece pela antiga e maléfica prática de atear fogo nas folhas das árvores que são derrubadas nas áreas de assentamento, nas chácaras, sítios, fazendas e até nos quintais dentro das zonas urbanas.

O pesquisador conta que já havia pensado em fabricar a chapa, mas queria que a tecnologia não fosse aproveitada somente por indústrias de grande porte e com capacidade de investimentos em larga escala. Por isso, explica Rocha, “busquei encontrar alternativas que contemplassem também as micros e pequenas empresas”.

Foi por isso que Jadir Rocha fez experiências e encontrou uma excelente resina. Além de proporcionar o aumento da vida útil das chapas, o produto possibilitou a “cura” do material num período curto de tempo. O material foi preparado sem o uso de prensas de sistema a quente, o que barateia os custos de produção. “A resina foi encontrada e o processo de transformar as folhas em chapas foi iniciado”.

Rocha explica que no processo de confecção da chapa podem ser aproveitadas folhas de espécies arbóreas, de frutíferas, de palmeiras, de ervas daninhas e plantas ornamentais. “Primeiramente as folhas passam pela operação de trituração para obtenção de pequenas partículas, podendo ser secas ao ar livre ou em estufas. Posteriormente, é feita a formação de um colchão de partículas com aglutinação de resina sintética e fibra de vidro”.

Opções de prensagem

O processo oferece duas opções de prensagem, a frio e a seco. No primeiro caso, não necessita de prensa com sistema a quente, sendo utilizadas resina de laminação, fibra de vidro, com adição de catalisador e pressão. “Este processo de “cura” da chapa é relativamente lento e a produção dá-se em pequena escala”. No segundo, dispensa o uso de resina de laminação e catalisador, passando-se a usar resinas sintéticas, fibra de vidro e ação conjunta de temperatura e pressão. “A produção das chapas é muito rápida podendo-se atender grandes demandas”, salienta.

Qualidade e versatilidade das chapas

Rocha ressalta que a qualidade do material depende dos tipos de folhas. Ele cita como exemplos, as folhas das palmeiras são muito resistentes ao rasgo na direção transversal às fibras. “Nas outras espécies podem ser encontradas folhas bem espessas e de superfícies super lisas, cujas características são indicadoras de grande resistência ao rasgo, folhas sem tais as características, não são recomendadas”.

O pesquisador diz que no processo de confecção é possível se obter chapas com a leveza da espécie arbórea, pau-de-balsa ou mesmo com a densidade da tão pesada maçaranduba. “As chapas oferecem resistência mecânica satisfatória, boa durabilidade, bom acabamento e excelente visual”.


(Envolverde/Agência Amazônia)

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