Suplemento Meio Ambiente
Por JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TAILÂNDIA (PA)
Pouco mais de um ano após ser ocupada por policiais federais e se tornar o símbolo do desmatamento na Amazônia, Tailândia (PA) patina para recuperar o nível econômico obtido com a extração ilegal da madeira.
São visíveis os rastros da Operação Arco de Fogo, que em fevereiro de 2008 chegou ao município com 300 agentes. Em torno da rodovia PA-150 é possível ver lojas de tratores e motosserras com placas de "Aluga-se". Outras já fecharam. Esqueletos de serrarias e suas máquinas se deterioram sob a chuva.
Os federais já não estão lá, mas há o temor de que eles voltem. A reportagem da Folha foi duas vezes abordada por moradores, que a confundiram com os agentes.
Só restaram 28 das 51 madeireiras. O repasse do ICMS (que responde por um quarto da receita da cidade) caiu de R$ 700 mil para R$ 400 mil ao mês. Após a repressão, veio a crise global, que reduziu a demanda por carvão e as exportações de madeira. A prefeitura calcula os desempregados em 14 mil (20% da população), contra 10 mil em fevereiro de 2008. A crise virou tema de missa. O padre Adamor Lima diz que os casos de depressão aumentaram: "As pessoas tinham um padrão de vida. E perderam".
No mês passado, o governo federal aumentou o número de beneficiados do Bolsa Família em Tailândia de 2.800 para 5.501 pessoas. O problema tem sido achar os beneficiários: só 34% deles ainda estão nos endereços que deram quando se cadastraram. A maioria voltou para Estados de origem.
A operação da PF elevou o número de empresários que tentam se regularizar, mas os madeireiros e o Ibama dizem que ainda há matéria-prima ilegal sendo usada. O produto negociado irregularmente pode sair até 30% mais barato do que aquele que provém de empresas que pagam seus tributos e adotam planos de manejo.
Helder Garcia, que até hoje não conseguiu reabrir sua serraria, vê a burocracia estatal como o maior empecilho para continuar, mesmo que legalmente, no negócio. Sobrevive negociando carros usados. As montanhas de pó de serra só servem agora para ele praticar motocross.
Politicamente, a solução que os eleitores de Tailândia vislumbraram foi eleger como prefeito Gilberto Sufredini (PTB), um dos maiores madeireiros locais, que se cercou de empresários que, como ele, receberam multas (contestadas na Justiça).
Eles prometem criar uma agenda ecologicamente correta e diversificar a economia, com agricultura, pecuária e reflorestamento nas áreas devastadas (45% do município). "Somos legalistas", disse Josefran Almeida, que se afastou da madeira e do carvão para ser secretário do Meio Ambiente: "O manejo florestal é a saída".
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