quinta-feira, 25 de junho de 2009

Folha - Carne rastreada

Editorial

Setor agropecuário reage lentamente à exigência de certificação ambiental e rastreamento do produto brasileiro

A PECUÁRIA brasileira parece curvar-se, finalmente, à evidência manifestada pelo mercado doméstico e internacional há anos: não há mais lugar para a carne bovina de procedência duvidosa. Incapaz de livrar-se da acusação de ser o principal motor do desmatamento na Amazônia, o setor -liderado por seu segmento mais dinâmico, o exportador- promete um esquema para rastrear 30% do rebanho do país.

É crucial, para a credibilidade do produtor e para a confiança do consumidor, a capacidade de identificar, em qualquer ponto, todas as fazendas e instalações de processamento por trás de cada quilo de carne, por exemplo com chips implantados contendo os dados do animal. A chamada rastreabilidade é precondição para a fiscalização sanitária e ambiental.

Não é de hoje que produtores, frigoríficos e o governo devem aos compradores um sistema de rastreamento decente. A promessa descumprida vem pelo menos desde a crise da febre aftosa, que fechou vários mercados à carne brasileira -como o embargo russo, de 2005 a 2007.

Agora é o cerco ambiental que se aperta em torno da pecuária. Mobilizam-se o Ministério Público Federal, ONGs como Greenpeace e frigoríficos e redes de varejo, que anunciam boicote a produtos de fazendas onde supostamente houve desmate ilegal. Até o BNDES comunicou tratativas para exigir "providências no sentido de aumentar o controle da cadeia".

A associação entre pecuária e desmate tem fundamento. De 1996 a 2006, pereceram 209 mil km2 de floresta amazônica, um território maior que o do Estado do Paraná. No mesmo período, o rebanho da Amazônia Legal cresceu 97%, muito acima do desempenho médio do país (10%).

Parte do setor agropecuário se recusa a enxergar o vínculo, refugiando-se na cômoda e pouco crível acusação de que se trata de um complô contra a pujança do produtor nacional. Se é óbvio que as suspeitas funcionam como barreira não tarifária à carne brasileira, ou que ONGs carregam nas tintas de suas denúncias, o melhor antídoto contra elas está em propiciar informação precisa e confiável, mostrando em quais casos as acusações são infundadas.

Preocupa, na promessa dos exportadores de rastrear 30% do rebanho, o prazo anunciado: três a quatro anos. O setor já consegue ver a onda montante no mercado consumidor, mas precisa andar mais depressa que ela.

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