Após saída dos arrozeiros, indígenas de várias etnias se organizam para administrar TI
O último não-índio que antes habitava a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, abandonou a região, segundo o Jornal O Estado de São Paulo. Na semana passada, o fazendeiro Adolfo Esbell, de 82 anos, anunciou sua decisão de sair ao desembargador Jirair Megarian, encarregado de coordenar a retirada dos não-indígenas do território.
No próximo domingo, o desembargador irá a Normandia, fronteira com a Guiana, que é o município onde fica a propriedade de Esbell, para um ato no qual o fazendeiro lhe entregará a chave de sua casa e receberá um documento confirmando a saída.
O encontro será símbolo da etapa final de uma disputa de 32 anos sobre o controle da TI Raposa Serra do Sol, uma área de 1,7 milhão de hectares, onde vivem cerca de 19 mil índios. A disputa acabou em abril, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a demarcação da área de forma contínua, sem espaço para não-indígenas.
Com a saída do último não índio, a administração do território passa totalmente aos indígenas, que estão divididos em cinco etnias, com diferentes graus de aculturamento. Os macuxis, que vivem nas vastas planícies da região, conhecidas como lavrados, são os mais integrados, e criam gado em áreas de pequeno, médio e até grande porte.
Os ingaricós, por sua vez, são moradores isolados das montanhas, região conhecida como Serra do Sol, que é de dificílimo acesso e isolamento com relação a outras culturas. Na TI também estão os uapixanas, taurepangs e patamonas. As diferenças políticas e ideológicas desses vários grupos fazem com que existam oito associações para representá-los.
De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, há alguns dias, os índios deram início a uma tentativa de superar as divergências, com a criação de uma federação, que abriga as associações. O presidente eleito é do Conselho Indigenista de Roraima (CIR), organização mais influente e também a mais próxima da Igreja Católica.
A primeira assembleia da federação acontecerá no próximo dia 25. Um dos temas mais difíceis de serem debatidos será a definição sobre a ocupação das terras antes controladas pelos produtores de arroz. Os índios ainda não sabem o que fazer com os arrozais. Também serão discutidas formas de obtenção de renda para projetos de desenvolvimento das comunidades. De acordo com o presidente do CIR, Dionito de Souza, a concessão de áreas para a exploração de minérios e recursos hídricos é uma alternativa.
Segundo o secretário de Assuntos Indígenas de Roraima, Jonas Marcolino, os índios deveriam discutir formas de melhorar a produção rural. Para ele, que se opôs a demarcação em área contínua, um dos principais problemas será o enfrentamento dos diferentes graus de integração das comunidades, já que os índios devem explorar a área coletivamente.
Por causa da idade, do fato de ter nascido ali e de um distante parentesco indígena, Esbell estudava a possibilidade de continuar vivendo em Normandia. Porém desistiu da ideia porque teria que se sujeitar à nova forma de organização liderada pelos índios. O arrozeiro se mudará para uma área do mesmo tamanho, cedida pelo Estado, no município de Bonfim.
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