SÃO PAULO - O consórcio que constrói a usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, entrou com um novo pedido na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para antecipar a entrada em operação da hidrelétrica. O presidente da Santo Antônio Energia S.A. (Saesa), Roberto Simões, diz que o objetivo agora é começar a gerar energia a partir de dezembro de 2011, ou seja, um ano antes do prazo original estabelecido no leilão. Mas para isso, a Odebrecht, que é a principal sócia do projeto e constrói a usina, está tentando mobilizar o governo e as empresas de transmissão para que também o linhão esteja pronto a tempo.
Esse é o segundo pedido de antecipação do cronograma da obra, que já tinha permissão para entrar em operação em maio de 2012. Se o novo pedido for aceito pela Aneel, a usina vai colocar no sistema interligado nacional uma potência instalada de cerca de 71,5 megawatts (MW) já em dezembro de 2011. A partir daí, a cada mês duas novas unidades, de 71,5 MW cada, entrariam no sistema, segundo informa José Bonifácio Júnior, que é da Odebrecht e também diretor do Consórcio Construtor Santo Antônio, formado por Odebrecht e Andrade Gutierrez.
Bonifácio explica que como a nova data que está sendo pleiteada coincide com o período das cheias do Rio Madeira, será possível gerar integralmente a capacidade instalada. A maior vazão se dá justamente no mês de abril. Com isso, até o início de maio seriam gerados 644 MW e que poderiam ser totalmente negociados no mercado livre de energia. Isso porque, pelas condições do contrato assinado com a Aneel, toda a energia gerada antecipadamente pode ser vendida para os consumidores livres. O compromisso de entrega de 70% do total da energia assegurada do projeto, de 2.218 MW, para o mercado cativo só começa a valer a partir de dezembro de 2012.
Toda a negociação da antecipação já foi feita também com os fornecedores de equipamentos. Bonifácio diz que pelo contrato firmado na época do leilão, já estava previsto que as primeiras entregas poderiam acontecer a partir de novembro de 2011. O fornecimento de turbinas e outros equipamentos será feito pelas empresas Alstom, Voith Siemens, Vatech, ABB e Areva.
Bonifácio explica que por parte da construtora é possível acelerar as obras em função da decisão de se construir uma terceira casa de força na usina. Mas ele lembra que uma nova antecipação é muito difícil de acontecer já que não se pode onerar o custo e assim inviabilizar o negócio.
O desafio para a Saesa será acelerar as 26 ações sócio-ambientais previstas no projeto. Algumas delas, como a emissão de licenças e estudos ambientais, precisam necessariamente estar prontas antes da entrada em operação da usina. A própria demora da liberação da licença de instalação para a usina de Jirau acaba prejudicando o andamento das obras da usina de Santo Antônio. O fato é que algumas ações na usina de Jirau (da concorrente Suez) podem afetar a de Santo Antonio, e vice-versa, e por isso mesmo as duas vão se unir em parceria para otimizar algumas de suas atividades.
Para resolver esses entraves, seria necessário uma ação forte do governo, principalmente dentro dos órgãos ambientais. Além disso, é preciso fazer um acordo com as empresas vencedoras do leilão da linha de transmissão realizado no ano passado. Os contratos foram assinados em fevereiro deste ano e preveem a entrada em operação das diferentes linhas, coletoras e estações conversoras em prazos que variam de 36 a 50 meses.
Para o início da operação em dezembro de 2011, seria necessário que pelo menos a primeira parte do projeto de transmissão do Madeira - que equivale ao primeiro lote leiloado e arrematado pelo consórcio liderado pela Eletronorte - estivesse pronto. É a Eletronorte que vai construir duas conversoras na região de Porto Velho, uma estação coletora e a linha de transmissão que vai ligar a usina à cidade de Porto Velho. O prazo previsto em contrato é fevereiro de 2012.
O superintendente de novos negócios da Eletronorte, Wilson Fernandes de Paula, afirma que de fato há uma negociação para a antecipação e que vai existir um esforço da empresa nesse sentido. Com isso seria possível escoar a energia pelas linhas de transmissão do que está sendo chamado pré-Madeira. Está previsto um leilão neste ano para que sejam feitos reforços e modernização das linhas de transmissão que já atendem a região.
(Josette Goulart | Valor Econômico)
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