quarta-feira, 8 de abril de 2009

Envolverde - De olho na Amazônia


Por Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa

Está em todos os jornais de hoje a notícia de que o Tribunal de Justiça do Pará anulou a decisão do júri que, em maio do ano passado, havia inocentado o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura da acusação de ser um dos mandantes do assassinato da missionária católica Dorothy Stang.

A notícia também teve repercussão na imprensa internacional, que segue com atenção os desdobramentos do crime e periodicamente questiona a capacidade das autoridades brasileiras de estabelecer um mínimo de ordem institucional na região amazônica.

A relatora responsável do processo reconheceu que existem provas irrefutáveis de que dois fazendeiros do município de Anapu, Vitalmiro de Moura e Regivaldo Galvão, prometeram R$ 50 mil ao pistoleiro Rayfran das Neves Sales pela morte da missionária.

Dorothy Stang, nascida nos Estados Unidos, foi assassinada aos 75 anos, depois de dedicar boa parte de sua vida à assistência de famílias pobres da Amazônia.

Quando foi morta, em 2005, ela atuava na consolidação de projetos agrários sustentáveis na região de Anapu.

Um fato que a imprensa quase sempre omite é que a missionária foi a idealizadora dos PDS – Projetos de Desenvolvimento Sustentável – que permitem a centenas de famílias garantir seu sustento sem derrubar a floresta – o que contraria os interesses de madeireiras e grandes fazendeiros, e que os conflitos continuam latentes na região.

O julgamento anterior, no qual o fazendeiro Vitalmiro havia sido inocentado pelo júri após uma manobra da defesa, que apresentou um vídeo que não estava nos autos, vinha sendo contestado até mesmo em organismos internacionais.

Em dezembro do ano passado, Dorothy Stang foi homenageada em sessão da Organização das Nações Unidas, quando foi mais uma vez exibido o documentário sobre sua vida e seu assassinato.

O filme circula em eventos internacionais e reforça a tese de algumas organizações segundo as quais o Brasil não é capaz de administrar sua parte no território amazônico.

A nova decisão da Justiça favorece a imagem externa do País mas ainda não significa que as coisas estejam realmente mudando na Amazônia.

Outro filme, “Bye Bye Brasil”, dirigido por Cacá Diegues, já completou trinta anos e continua sendo o melhor retrato daquela região.

Um país de não leitores


Por Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

- A última grande pesquisa sobre o hábito de leitura no Brasil foi realizada entre novembro e dezembro de 2007, promovida pelo Instituto Pro-Livro, que ouviu 5.012 pessoas em 311 municípios do país. O resultado está no livro “Retratos da Leitura no Brasil” e não são lá muito animadores.

Embora o índice de leitura tenha saltado de 1,8 livro por leitor ao ano, em 2000, para 4,7 livros lidos em 2007, incluindo os didáticos, esses números estão muito aquém dos índices verificados em países que conferem status estratégico às suas políticas públicas de educação.

O Brasil tem 650 editoras ativas, de acordo com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, além de 2.680 livrarias e outros 4 mil pontos de vendas de livros, segundo a Associação Nacional de Livrarias. Junte-se a isso 5.135 bibliotecas públicas, contadas pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas da Fundação Biblioteca Nacional. Parece muito, mas é pouco para um país em que apenas 55% da população têm acesso a livros.

Um movimento importante de estímulo ao livro foi dado no seminário “Formação de Mediadores de Leitura”, realizado em São Paulo, na segunda semana de março, ao qual a mídia pouco prestou atenção. Os documentos conclusivos do seminário serão encaminhados ao ministro Juca Ferreira, da Cultura, como contribuição para a formulação de políticas públicas de leitura. Um dos animadores do encontro, o poeta e jornalista Affonso Romano de Sant´Anna, afirmou: “Pela primeira vez, vi autoridades de vários ministérios dispostas a um projeto conjunto. Por isto, propus que o projeto de leitura se transformasse num projeto interministerial e que seja assunto prioritário da Presidência da República”.

Deus te ouça, poeta. E a mídia também.


(Envolverde/Observatório da Imprensa)

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