segunda-feira, 6 de abril de 2009

Folha - Potência e compromisso

Por MARINA SILVA


EM LUZIÂNIA, município goiano perto de Brasília, acontece até quarta-feira uma conferência nacional na qual o país deveria estar de olho. Ali se consolida um movimento capaz de causar grande impacto social, embora pouco o percebamos hoje.

É a 3ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, promovida pelos ministérios do Meio Ambiente e da Educação, com o tema "Mudanças Ambientais Globais". A primeira, em 2003, envolveu cerca de cinco milhões de pessoas de 4.000 municípios, em conferências estaduais que convergiram para a nacional.

No sábado, participei, juntamente com o professor José Eli da Veiga, de diálogo com os 669 delegados de 11 a 14 anos. Voltei entusiasmada e tocada pela qualidade das intervenções. Confirmei meu prognóstico de seis anos atrás, de que essas conferências seriam paradoxalmente âncora e alavanca para transformar o paradigma de educação e também o de cidadania, incorporando-lhes questões essenciais para o advento da sociedade que esse momento de profunda crise global parece anunciar.

Falamos sempre do que podemos fazer pelas gerações futuras. Em Luziânia, vi o que elas podem fazer por nós, agora. Um dos efeitos de seu engajamento nas propostas de um mundo mais sustentável e justo é a pressão exercida junto a pais e adultos em geral para assumirem novas atitudes em casa, nos espaços coletivos e profissionais, na política.

Já ouvi depoimentos de empresários que mudaram o perfil de seus negócios após cobranças de filhos e netos. Podem parecer casos isolados, mas a verdade é que a infância e a juventude estão tendo papel inovador vital em suas casas, nas suas escolas e em outras instituições.

A medir pelos cerca de 12 milhões de jovens que participaram das três conferências, novos valores e práticas se firmam no horizonte: respeito ao meio ambiente, processos mais democráticos, horizontais, multiculturais, diversificados. Um exemplo são os documentos que encerram as conferências. Em lugar de lista de reivindicações, entregam ao presidente da República, a ministros e a outras autoridades a "Carta de Compromissos", que diz o que os próprios jovens pretendem fazer. Desde medidas práticas, como limpar rios, até ações de conscientização e organização.
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Eles não têm poder, mas têm a potência dos sonhos e compromisso com causas. Ensinam a quem, mesmo tendo poder e ferramentas, faz muito pouco. Na terça-feira, estarão em Brasília para a Caminhada Vamos Cuidar do Brasil. Espera-se que os adultos tenham sensibilidade e humildade para ouvir e aprender.

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