Por Soraya Aggege e Maiá Menezes
Enviadas especiais
Participantes fazem agenda de protestos em cúpulas de Otan, G-8 e G-20
BELÉM. A fatura da crise econômica terá de ser paga pelos ricos. Os pobres vão resistir e protestar. Esses foram os principais consensos do Fórum Social Mundial (FSM), que encerrou ontem a sua nona edição. As articulações, que incluíram 5.808 entidades de 142 países — a maioria (4.193) latinas —, resultaram em um longo cronograma de protestos mundiais a serem feitos no futuro. O conjunto de mobilizações une os dois temas que prevaleceram durante o encontro: crise econômica e preservação da Amazônia.
O calendário foi lido por representantes de 22 grupos setoriais e fechado por consenso entre os participantes.
Uma das ações globais será a semana contra a guerra e o capitalismo, de 28 de março a 2 de abril. O objetivo é fazer protestos em todos encontros de cúpula que envolvam a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o G-8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia) e o G-20 (grupo que abrange também economias emergentes).
Também foram lançadas datas globais de ações contra a destruição da Amazônia, no dia 12 de outubro, e em defesa da Palestina, em 30 de março.
Apesar das convergências, a multiplicidade de discussões impediu a formulação de um documento único: — Este não é um Fórum para decidir nada homogeneamente.
Não queremos fazer a velha política. Queremos uma nova cultura política. Não é para ninguém ser dirigente de ninguém — avalia Cândido Grzybowski, um dos fundadores do FSM, que vê como desafio para o Fórum a “revolução de mentalidades”.
Para Oded Grajew, também fundador do FSM, o papel do que os organizadores chamam de “processo do Fórum Social” é disseminar as mensagens extraídas na última assembleia do encontro, ontem à tarde: — Temos que reforçar articulações e continuar ousando.
Fórum temático discutirá questões de povos indígenas
A ativista italiana Rafaela Bolini, do conselho internacional do FSM, viu maturidade na nona edição do encontro: — Tivemos um período em que o debate era se iríamos dialogar com a política ou seríamos autônomos. Quem é autônomo não tem condição de dialogar com ninguém. O Fórum demonstrou que cresceu: é mais forte e pode dialogar — afirmou Rafaela.
Os índios presentes no Fórum decidiram pela organização de um fórum social temático sobre povos indígenas.
— Somos atores políticos vivos. Não parte do folclore — disse Miguel Palacin, da coordenação andina dos povos indígenas.
O FSM se organizou em 22 reuniões setoriais ontem de manhã e, no fim da tarde, fechou suas propostas em assembleia geral. O enfoque que ganhou a adesão de todos partiu dos principais braços de mobilização do FSM, os movimentos sociais e sindicais: “Não vamos pagar pela crise.
Que paguem os ricos”, anunciaram na chamada “assembleia das assembleias” do FSM.
As discussões sobre a realização do próximo FSM continuam até quarta-feira. Há várias propostas, mas vem ganhando força a ideia de que a próxima edição centralizada acontecerá apenas em 2011, na África. Há ainda a possibilidade de o FSM se basear nos Estados Unidos ou no Oriente Médio.
Para 2010, o debate é se o Fórum será um dia de ação global ou se terá “filhotes temáticos” em alguns continentes.
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