segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Envolverde - Dissociando a discriminação da pesquisa
Por Rahul Kumar, especial para IPS/ TerraViva
Pesquisadores e acadêmicos, cortando caminho por diversos países e culturas, condenaram veementemente o racismo e a discriminação que ainda prevalece em instituições de ensino que não permitem que pessoas de comunidades indígenas e marginalizadas cresçam e adquiram conhecimento. Além disso, os participantes do Fórum Social Mundial (FSM) também debateram, no sábado, sobre se seria possível levar as pesquisas de suas consagradas credenciais acadêmicas para as pessoas.
Falando sobre discriminação na pesquisa, na discussão ‘Conversa sobre Raça e Liderança’, organizada pela Universidade de Nova York, Athayde Motta, da Oxfam Brasil, disse que “mesmo que a população afro-brasileira seja em torno de 55%, nós não temos nenhuma participação em como a pesquisa é conduzida. Negros, indígenas e mulheres são, geralmente, excluídos e às vezes são até acusados de tentar quebrar o país”.
Outros participantes narraram experiências similares em seus países. Pesquisador indiano no Instituto Social Indiano (ISI), Biju Lal disse que a situação nas universidades indianas é igual. “Quase 90% dos dalits deixam as pesquisas e academias por causa de racismo direto. Ademais, existe uma grande quantidade de políticas envolvidas nas pesquisas relacionadas aos meios de vida e assuntos de desenvolvimento, e nenhuma integridade ética nessas pesquisas”.
Lal estava falando sobre a discriminação contra os dalits – uma das comunidades mais marginalizadas na Índia devido ao sistema de castas vindo do Hinduísmo. Chamados de os intocáveis por um longo tempo, e apesar desse conceito de intocabilidade ter sido abolido pelo governo indiano em 1947, na independência da Índia, eles continuam a padecer no último degrau da escada do desenvolvimentoe a enfrentar um forte ostracismo social, particularmente na Índia rural.
Diana Salas, da Rede Política das Mulheres Negras, da Universidade de Nova York, disse que as pessoas não querem falar sobre raça e gênero. “Se uma mulher de uma raça diferente está tentando se tornar uma professora, ela terá muita dificuldade. Por outro lado, se você continuar a ser apenas uma pesquisadora está tudo bem. Esse é um grande obstáculo para os imigrantes nos Estados Unidos. Existe uma hierarquia muito enraizada e baseada na raça e no gênero lá”.
Falando sobre as experiências nos Estados Unidos, Richard Moore, da Rede por Justiça Econômica e Ambiental do Sudoeste, disse que “nós deveríamos pesquisar assuntos que nos ajudem a evoluir em nossas comunidades assim como em nossos países. Nesse momento, os Estados Unidos estão testemunhando um aumento dos avisos sobre questões relacionadas à justiça ambiental e de raça”.
Além da discriminação, o rascunho do acordo, distribuído pelos pesquisadores para as pessoas e grupos que fizeram propostas de temas de estudos, também foi discutido. O debate também caminhou na direção de se as pesquisas participativas deveriam ser realizadas e se as pesquisas deveriam tentar abordar o assunto das mudanças sociais.
Uma participante da Índia rural mencionou que as pessoas da sua vila não queriam dar entrevistas ou conhecer as pessoas porque não estavam cientes dos benefícios que as pesquisas trariam a eles. Ela acrescentou que tanto o governo quanto as ONGs deveriam se responsabilizar pela situação.
Falando sobre pesquisas participativas, Jennifer Dodge do Centro de Pesquisa dos Líderes em Ação, da Universidade de Nova York, afirmou que “sob as pesquisas participativas, a comunidade e os pesquisadores dividem o controle sobre a pesquisa que está sendo conduzida. O controle ocorre na tomada de decisões sobre os assuntos das pesquisas, como será conduzida e qual será o seu uso”.
Concordando com a opinião dela, Joseph Xavier, do Escritório de Bangalore do ISI disse que “o ativismo está chegando nas pesquisas, mas os ativistas não querem aprender sobre as pesquisas adequadamente. Pode nossa pesquisa não ir adiante, ser arquivada e ajudar as comunidades? Eu acredito que é possível, se os pesquisadores puderem gastar um pouco do seu tempo nas vilas, vivendo com as pessoas, ajudando e aprendendo com eles. Mesmo que sejam eles que aprendam com a comunidade, eles dão algo em troca”. (IPS/ TerraViva)
(Envolverde/IPS/TerraViva)
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