Por Marcos Sá Corrêa*
O engenheiro André Rivola abre com as mãos uma brecha nos tufos de capim-elefante e, como se acabasse de serrar ao meio o corpo da assistente num picadeiro de circo, pergunta: "Agora acredita?"
O primeiro impulso é dizer que não. Até ali, a viagem a Sacra Família do Tinguá, marco histórico do caminho colonial que abriu ao café o Vale do Paraíba, ainda não esclarecera por que ele tinha insistido tanto para mostrar o Novo Horizonte 1, seu projeto "para disseminar em todo o território brasileiro a prática de recuperação de áreas degradadas e aquíferos".
Dois anos atrás, Rivola ganhou, com essa proposta, o patrocínio do Programa Petrobrás Ambiental. Agora, faltando receber só a última parcela desse milhão e meio de reais, ele mesmo, retrospectivamente, reconhece "que era coisa demais". E alega: "Entrei nessa como engenheiro eletricista."
Ele era gerente na Petrobrás. Trocou no começo da década o emprego certo pelo reflorestamento incerto, depois de viajar tanto pelo Brasil que as paisagens desoladas na beira das estradas o deixaram cansado de ver "um País feio".
Errou os cálculos da travessia. Convidou oito prefeituras da região para ouvir o que ele se propunha a fazer por elas, de graça. Duas mandaram representantes à reunião. Só uma concretizou a parceria, cedendo-lhe a base de operações. Ofereceu seus préstimos aos proprietários rurais da região. Relutantemente, 53 se inscreveram no projeto. E 12 abriram efetivamente alas para tentativas de reflorestamento. Prometeu reflorestar 140 hectares. Não chegou a 10 hectares.
A Floresta Brasil, sua Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, é hoje "uma Oscip de fato, mas não de direito", com o registro encruado no Ministério da Justiça. Emprega nove pessoas, incluindo o próprio Rivola e dois estagiários. Funciona em oficinas abandonadas da Rodolfo Fuchs, uma escola-modelo que o governo federal abandonou, ao fechar os internatos para meninos de rua.
Lá dentro, computadores, mesas e arquivos acampados sobre o piso de cimento sugerem que a Floresta Brasil é improvisada ou provisória. Só depois de folhear os formulários, com normas para tudo, desde o equipamento indispensável para a coleta de sementes em árvores até o "procedimento para limpeza adequada dos banheiros", descobre-se, por trás da bagunça aparente, a disciplina compatível com o futuro de 70 mil mudas de 50 espécies.
Mas isso não basta para justificar a autoconfiança de Rivola, até ele enveredar pelo capinzal baldio, no morro diante de suas janelas. Ele encontrou seu caminho na contramão. De tanto cavucar seminários e palestras em busca de uma saída, acabou topando com Ernst Götsch, um suíço que salvou da desertificação 500 hectares na Bahia, trocando as técnicas de replantio convencionais pelas fórmulas secretas da mata nativa.
Götsch convenceu-o de que, misturando mudas de árvores e arbustos em pequenas ilhas, elas mesmas se defendem das pragas e conquistam terrenos degradados.
"Quer ver?" Com essas palavras, afasta o capim desgrenhado, que mal deixa ver o fundo da trilha, e aponta os ipês, gapuruvus, orelhas de macaco e embaúbas brotando na mais perfeita confusão, como canteiros silvestres. Nessas ilhas de vegetação, o pasto não entra. "Se os agricultores descobrirem que reflorestar pode ser tão fácil e barato, tomam gosto pela coisa como tomei", conclui Rivola.
* É jornalista e editor do site O Eco (http://www.oeco.com.br)
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