quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Hidrelétricas na Amazônia devem obedecer condicionantes próprias da região, aponta estudo do IPEA

Segundo os especialistas, sustentabilidade ambiental se mostra mais como uma oportunidade do que como uma restrição ao desenvolvimento

A presença na Amazônia de áreas protegidas pela legislação, como unidades de conservação e terras indígenas, e o risco de diminuição da produtividade na pesca e na agricultura, são condicionantes que devem ser levados em consideração nos grandes empreendimentos de geração de energia no Brasil.

O alerta é encontrado em um extenso estudo lançado nesta terça-feira (15) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) intitulado “Energia e meio ambiente no Brasil”.  O estudo completo está disponível no site do Ipea, http://www.ipea.gov.br/portal.

De acordo com o estudo, o esgotamento dos potenciais mais atraentes nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país em que se localizam os grandes centros de carga, sinalizam para a exploração dos potenciais existentes na região amazônica.

Na Amazônia, segundo o estudo, se estima um potencial remanescente de cerca de 108 GW, ou seja, 41% do potencial existente no país, transformando o Norte do país na resposta para a fronteira energética.

Os autores do estudo destaca, contudo, que a região se caracteriza pela existência de diversas áreas protegidas que apresentam diferentes níveis de restrição a implantação de empreendimento hidrelétrico e a passagem dos sistemas de transmissão associados.

“Do ponto de vista ecossistêmico é discutido o fato da diminuição da produtividade na pesca e na agricultura, e a alteração dos fatores geomórficos presentes no ambiente fuvial.  Desse modo, nos estudos de longo prazo, esses condicionantes devem ser levados em conta, na comparação entre as diversas fontes para geração e na definição dos corredores de transmissão”, diz trecho do trabalho.

Os autores, segundo o estudo, procuraram evidenciar que, muito mais do que um sacrifício para a economia nacional, a sustentabilidade ambiental deve ser vista como uma oportunidade para o desenvolvimento socioeconômico.

Este raciocínio, destaca o texto, segue a tendência mundial, talvez irreversível, de uso de energias alternativas com responsabilidade social e ambiental, na perspectiva da gestão integrada dos recursos naturais.

Série

O comunicado do IPEA é o primeiro de uma série dedicada ao meio ambiente, intitulada "Sustentabilidade Ambiental no Brasil: biodiversiadade, economia e bem-estar humano".

“A sustentabilidade ambiental se mostra mais como uma oportunidade do que como uma restrição ao desenvolvimento”, disse o técnico Albino Rodrigues, durante solenidade de lançamento do estudo, em declaração publicada no site do IPEA.

O estudo aponta que deve haver um investimento de cerca de 214 bilhões de reais em energia elétrica, cerca de 672 bilhões de reais em petróleo e gás e cerca de 66 bilhões de reais em energia proveniente de biocombustíveis líquidos.

“Como grande parte dos investimentos em energia no Brasil é feito com dinheiro público e a partir de empréstimos de bancos como o BNDES, espera-se que uma instituição como esta deva exigir que os investimentos estejam de acordo com uma maior eficiência energética e com a sustentabilidade ambiental”, concluiu Gesmar Rosa Santos, outro autor do estudo.

Energia eólica e solar

O técnico Antenor Lopes Filho destacou a energia eólica no Brasil como um tipo de geração que tem crescido muito no País.

“Há dez anos, a energia eólica era uma coisa fora da realidade do País, era considerada muito cara e pouco eficiente.  Porém, nos últimos anos, estamos vendo o surgimento de parques eólicos no Ceará e há projetos no Rio Grande do Sul e Bahia”, disse.

Em relação à energia solar, o técnico diz que seu uso é praticamente desprezível no Brasil.  Porém Antenor destaca que é muito alto o custo ainda dessa tecnologia.

“É curioso, mas no caso da energia solar, os custos sempre foram colocados como entraves à utilização dessa tecnologia, pois se pensava sempre no aspecto econômico”, afirma Antenor.  Mas, o técnico do Ipea destaca que a exemplo da energia eólica, a tendência é que essa tecnologia seja mais utilizada no Brasil.

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